Conheci uma empresa que mantinha o cuidado com as pessoas no centro de suas principais decisões. Por isso, no início dos processos seletivos para cargos de liderança, os recrutadores perguntavam aos candidatos: “Você já precisou desligar alguém? Se sim, como foi essa experiência para você?”. E só quem demonstrava alguma empatia pelo colega demitido seguia na disputa.
Acredito em iniciativas como essa porque, no meu contato diário com candidatos, noto que o último dia de trabalho em uma empresa tem um impacto importante na história de cada profissional, seja quando a pessoa é demitida ou pede demissão. O que ela ouviu e como se sentiu pode, inclusive, definir como ela vai se comportar nas próximas oportunidades de emprego.
Felizmente, caminhamos na direção de um mundo corporativo cada vez mais humanizado. É imprescindível, porém, que esse cuidado também esteja presente na hora de demitir alguém – e os empregadores ainda deixam a desejar nesse quesito.
Equívocos e acertos na hora da demissão
Há dez erros principais. O primeiro é ser vago, evasivo, e esconder os reais motivos da demissão. A comunicação precisa ser transparente, empática e respeitosa. Isso evita que o funcionário fique confuso, frustrado e ressentido – o que pode gerar danos à reputação da empresa ou até motivar processos trabalhistas.
Também aconselho que a demissão aconteça em um local privado, onde o funcionário poderá receber a informação sem se sentir exposto. Dispensar alguém na frente de colegas é um desrespeito à dignidade do profissional.
Outro erro comum é agir de forma impessoal demais. Considere os sentimentos do funcionário, não seja frio ou mecânico nesse momento. Lembre que a demissão provavelmente vai abalar as finanças – e as emoções – do ex-colaborador.
O elemento-surpresa é o quarto pecado capital quando o assunto é demissão. Para evitá-lo, é fundamental oferecer feedbacks constantes, sinceros e respeitosos. Caso o desligamento aconteça por um corte de custos ou pela reorganização do negócio, nada mais justo do que esclarecer muito bem o cenário ao profissional em questão.
Também não vale desrespeitar leis trabalhistas ou políticas internas da empresa no momento da demissão, alongar a conversa de maneira excessiva – o que torna a situação ainda mais desconfortável –, e deixar de agradecer o colaborador por seu trabalho. Reconhecer as contribuições do profissional encerra o relacionamento de maneira positiva e respeitosa, além de preservar a reputação da empresa.
Não oferecer suporte é outra forma de pisar na bola. É importante que a companhia esteja disposta a oferecer algum aconselhamento ou programa de recolocação ao profissional, nos casos em que isso fizer sentido, para que ele se sinta menos desamparado. Indicar a pessoa para o RH de outras empresas já é uma grande ajuda nesses momentos.
Este erro está relacionado a outro: não levar em consideração a situação particular de quem foi demitido. Avalie: é preciso estender o acesso ao plano de saúde? É possível oferecer um pacote de saída melhor do que o previsto por lei?
Por fim, não deixe de comunicar a demissão à equipe, sem expor detalhes desnecessários, para evitar rumores e incertezas entre os profissionais que permanecem na companhia. Informe, por exemplo, os planos para preencher a vaga.
Relações de trabalho não precisam ser eternas, mas é imprescindível que exista respeito entre todos os envolvidos durante todo o período de relacionamento. Isso é parte de um ambiente de trabalho saudável, positivo e produtivo.
Este texto é parte da edição 94 (outubro e novembro) da Você RH. Clique aqui e confira outros conteúdos da revista impressa.