ia 20 de março se comemora o Dia Internacional da Felicidade, e eu aproveito para te convidar para uma reflexão: você é feliz no trabalho? Essa pergunta era inimaginável alguns séculos atrás, quando as pessoas trabalhavam apenas com um objetivo em mente: ganhar dinheiro. Mas, hoje em dia, no nosso mundo moderno, esperamos sim ganhar dinheiro, mas também encontrar felicidade, ou melhor, contentamento, desenvolver relacionamentos e encontrar sentido no que fazemos.
É um lindo sonho — no entanto, complicado. Precisamos desenvolver autoconhecimento e dedicar tempo estudando e experimentando como aliar nossos interesses e paixões com algo que seja financeiramente viável. Para agravar essa situação, somos conduzidos a escolher as nossas carreiras cedo demais nas nossas vidas.
O fundador da The School of Life, Alain de Botton, tem uma ótima frase que traduz essa precocidade na decisão profissional e que sempre me marcou. Ele costuma dizer: “Muitos de nós ainda estamos presos na gaiola da carreira que criamos, por acaso, devido a algumas escolhas apressadas feitas quando éramos inocentes jovens de 18 anos.”
Como é que com essa idade vamos ter experiência e autoconhecimento suficiente para entender o que nos dá prazer, quais são nossos verdadeiros interesses e como fazer isso se tornar um modo de vida sustentável? Por mais que um jovem seja responsável e bem articulado, dificilmente, nessa idade, terá maturidade para fazer tal escolha de maneira certeira, e isso acaba levando a pessoa a mudar de carreira algumas vezes na vida.
Um depoimento pessoal
Eu mesma transitei por diferentes carreiras, mas, olhando para trás, posso notar que, independentemente do tipo de trabalho, duas características em comum sempre me guiam: uma forte veia de empreendedorismo e o “servir”. Seja ajudando pessoas a desenvolverem inteligência emocional para viverem melhor, sendo assessora de um atleta número um do mundo, unindo-me a um grupo de pessoas que tornam o dia a dia mais prazeroso, seja tendo a oportunidade de colocar em prática meu espírito de criação e liderança.
Mas sei que é algo raro. Nem sempre se tem a oportunidade, coragem ou condição necessária para se deixar guiar prioritariamente pela sensação de propósito e significado. De qualquer forma, vale o exercício de tentar buscar algo além do retorno financeiro. Não nego que dinheiro é importante, mas, em geral, somos seres capazes de aprender a viver com um pouco menos de bens materiais e, ainda assim, desfrutar de realização e liberdade.
Realização, aliás, é algo que eu sempre procurei nas minhas oportunidades profissionais. Isso porque, para mim, o termo felicidade vem acompanhado de uma cobrança por estarmos sempre bem, sorrindo. E nós sabemos que, no dia a dia, há momentos incríveis, mas também há dias em que temos que preencher planilhas, fazer apresentações, olhar o fluxo de caixa, lidar com pessoas desafiadoras e fazer atividades indesejadas.
Uma palavra melhor do que felicidade: eudaimonia
Em 2013, quando trouxe a The School of Life para o Brasil, juntamente com a minha sócia Jackie de Botton, eu tive a oportunidade de me aprofundar nessa minha percepção ao conhecer a eudaimonia. Trata-se de um termo criado na Grécia Antiga em substituição à palavra felicidade
Os filósofos daquela época, especialmente Platão e Aristóteles, não acreditavam que o propósito da vida fosse ser feliz. A proposta deles era a busca da eudaimonia, uma palavra melhor traduzida como “realização”. Na visão deles, é perfeitamente possível se sentir realizado e, ao mesmo tempo, estar de mau humor, sob pressão, sofrendo dores física ou estando mentalmente sobrecarregado.
Em resumo: eles nos alertavam para a realidade de que não se tem felicidade sempre, durante todo o dia e toda vida. Até mesmo nos melhores trabalhos e relacionamentos sofremos, e está tudo bem. Não há uma existência sem dor. No entanto, isso não deve nos impedir de seguir em frente e buscar essa realização.
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