O ESG deixou de ser moda e se tornou um caminho sem volta. Hoje, a crescente conscientização sobre as responsabilidades empresariais está moldando a maneira como as organizações conduzem seus negócios.
Como toda transformação social significativa, o ESG enfrenta alguma resistência. Mas, para quem está atento às demandas dos consumidores e da nova geração de profissionais, isso não significa retrocesso. Muito pelo contrário: as empresas não podem mais revogar suas responsabilidades.
É inegável que os consumidores estão mais criteriosos em relação ao posicionamento das marcas. Uma pesquisa da MindMiners, por exemplo, mostrou que práticas de ESG são importantes para quatro em cada cinco brasileiros. Um estudo da Hays, por sua vez, descobriu que esse é um aspecto importante para 47% dos profissionais na hora de escolher onde trabalhar.
O compromisso com o meio ambiente influencia até a retenção de talentos. Daí a tendência do climate quitting (ou “demissão climática”, em tradução livre), expressão que se refere à decisão de muitos colaboradores de buscar oportunidades em outras organizações ao perceberem que suas empresas atuais não estão comprometidas com a sustentabilidade.
Essa demanda torna-se mais evidente em meio à crise climática global, influenciada por práticas corporativas insustentáveis, como o descarte inadequado de resíduos, o uso irresponsável de água e os modelos de negócios que incentivam a produção e o consumo desenfreados.
Diante desse cenário, os profissionais querem trabalhar em uma empresa consciente. Segundo um estudo da Accenture, 64% deles acreditam que as companhias devem liderar esforços para combater as mudanças climáticas.
ESG e bem-estar corporativo
Por isso, alinhar as práticas da empresa aos pilares do ESG é fundamental para o bem-estar corporativo – outro tema que está ganhando força no mundo do trabalho. Muitas vezes, associamos o bem-estar apenas à saúde física. Mas ele é mais amplo: envolve saúde financeira; inclusão e diversidade no ambiente de trabalho; conexão com os valores da empresa; e segurança psicológica.
Como uma profissional trans, por exemplo, sentirá bem-estar sem ter os recursos necessários para manter um tratamento hormonal? Como mães poderão avançar na carreira se não tiverem uma rede de apoio? Como um trabalhador com doença crônica vai melhorar sua qualidade de vida se precisa escolher entre comprar medicamentos e pagar as contas? São diversas variáveis a se considerar ao definir uma jornada de cuidado – por isso, os benefícios corporativos devem ser flexíveis.
Daí a importância da governança (a letra G do ESG). Os stakeholders querem se identificar com os valores da empresa, não com uma fachada. Ter transparência e prestar contas sobre as políticas estabelecidas ajuda a equipe a ter maior segurança psicológica, pois ela estará em um ambiente que preserva a ética e as boas práticas.
A importância do RH para o ESG
Assim como o profissional de recursos humanos é o guardião do bem-estar, responsável por construir programas de benefícios alinhados às necessidades dos colaboradores, ele também é um grande aliado na implementação e no fortalecimento da agenda ESG nas empresas.
Para que esse processo seja bem-sucedido, é necessário promover mudanças internas. Isso envolve, por exemplo, o treinamento dos colaboradores e, principalmente, da liderança, que precisa adotar boas práticas para servir de exemplo às equipes.
Criar políticas que refletem o posicionamento da empresa é uma estratégia eficaz para formalizar e estruturar processos no dia a dia, além de facilitar o recrutamento e o onboarding de colaboradores alinhados à cultura organizacional.
O RH tem um papel fundamental na execução dessa agenda em todas as suas frentes:
- Ambiental: Promover a sustentabilidade por meio de educação, engajamento e políticas internas. Isso inclui treinamentos sobre reciclagem e eficiência energética, além de campanhas que incentivem comportamentos sustentáveis entre os colaboradores.
O RH também facilita a colaboração entre departamentos para alinhar as iniciativas de sustentabilidade e incorpora práticas como trabalho remoto e uso de transporte sustentável nas políticas da empresa. Além disso, promove a conexão entre bem-estar e sustentabilidade, incentivando a inovação e reconhecendo ideias que contribuam para a redução do impacto ambiental.
- Social: Desenvolver políticas que garantam que todos os colaboradores se sintam valorizados, organizar treinamentos sobre diversidade e implementar programas de saúde física e mental.
O RH também facilita a participação em atividades comunitárias, assegura o respeito aos direitos humanos na empresa e em sua cadeia de suprimentos, e promove educação sobre questões sociais, fortalecendo uma cultura organizacional consciente e inclusiva.
- Governança: Colaborar na criação e atualização de códigos de conduta e ética, garantindo que todos os colaboradores compreendam esses princípios.
O RH organiza treinamentos regulares sobre ética e compliance, implementa mecanismos de denúncia para reportar práticas antiéticas e apoia a alta administração na governança corporativa, preparando relatórios e facilitando a comunicação. Além disso, contribui para a gestão de riscos, principalmente em relação à conformidade trabalhista e à segurança, promovendo o engajamento dos stakeholders com uma comunicação aberta e transparente.
A responsabilidade de implementar os pilares do ESG, porém, não deve recair somente no RH. Os próprios fundadores e o CEO devem se envolver. Imagine adotar a sustentabilildade no discurso, mas ter um porta-voz que desconsidera esse aspecto em suas decisões? Essa postura dificilmente se sustenta.
Empresas que verdadeiramente integram os princípios de ESG em suas operações e cultura atraem e retêm talentos, mas também se posicionam de maneira mais competitiva no mercado. Ao priorizar essa mudança de paradigma interna e externamente, elas pavimentam o caminho para uma organização mais saudável, produtiva e consciente.