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Número de jovens estagiando cai e pessimismo aumenta, revela pesquisa

Levantamento realizado pela Companhia de Estágios traz panorama da situação dos jovens estagiários, com números que demonstram impacto da crise

Por Hanna Oliveira
Atualizado em 9 dez 2020, 22h48 - Publicado em 3 nov 2020, 15h16
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  • Este texto faz parte da série de três reportagens Jovens e o Trabalho, que será publicada semanalmente no site de VOCÊ RH. 

    Um levantamento feito pela Companhia de Estágios, com mais de 5.000 jovens profissionais e divulgado com exclusividade por VOCÊ RH, revela a situação do mundo do estágio em meio a crise do novo  coronavírus. A pesquisa “Carreira e Mercado – Perfil do Candidato a Vagas de Estágio”, realizada desde 2016, demonstrou, entre outros fatores, os impactos da pandemia no setor de estágio e o risco que o mercado pode correr sem uma mão de obra com experiência adequada.

    Um dos números que causa preocupação é o percentual de jovens estagiando: o índice caiu mais de dois pontos percentuais entre 2019 e 2020, de 12,5%  para 10,4%. Outro dado que chama atenção é número de jovens que não conseguem uma entrevista de emprego: 44% deles afirmaram não terem sido chamados para processos seletivos há pelo menos dois anos. É nesse cenário que o pessimismo dos jovens sobre a crise aumentou: saltou de 9% em 2019 para 18% neste ano. A conta caiu no colo da falta de oportunidade: 62% apontaram como esse sendo o motivo para sua descrença.

    Para Tiago Mavichian, CEO da Companhia de Estágios, isso poderá causar consequências sérias na mão de obra que entrará no mercado: “O impacto é o subemprego. Quem precisa trabalhar e não consegue o estágio, acaba indo para qualquer coisa. E qual o problema disso? É que em qualquer coisa o jovem não se desenvolve em sua área. Ele se forma e não é competitivo para conseguir uma colocação na área dele”. 

    Os impactos das políticas públicas 

    Nos últimos três anos, o levantamento feito pela Companhia de Estágios vem apontando os desdobramentos na mudança de políticas públicas sobre a educação. Uma delas diz respeito ao FIES – modalidade de financiamento estudantil concedida pelo governo federal. A pesquisa capturou a diminuição da oferta de vagas ao longo dos últimos três anos, parte de um processo de cinco anos de queda. Conforme publicado no Diário Oficial da União, para os anos de 2018, 2019 e 2020 foi prevista a abertura de 100.000 vagas. Há, ainda, nova publicação que prevê que a possibilidade de oferta de apenas 55.000 vagas no ano que vem. Em 2014, um dos anos em que o programa abriu um dos maiores números de vagas, chegou-se a marca de 732.000. 

    Isso se reflete nos dados obtidos pela Companhia de Estágios. De acordo com o levantamento, os respondentes que estagiavam e tinham FIES caíram de 11% em 2018 para 1,9% em 2020; os que ainda não estagiavam, de 12,5% em 2018 para 3,5% em 2020. Para Tiago, a combinação da crise do novo coronavírus, que, sozinha, já desempregou 3 milhões de pessoas segundo dados do IBGE, com a queda na oferta de vagas pelo FIES pode ser um dos indicadores que explicam por que os estudantes estão buscando o estágio para ajudar em casa — 20% dos entrevistados estão atrás de uma vaga para para complementar o orçamento familiar, representando um aumento de três pontos percentuais em comparação a 2019.

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    A maioria dos respondentes têm renda de até 3 salários mínimos, ou seja, são pessoas de pouco poder aquisitivo”, diz Tiago. “Se alguém em casa faz estágio, isso faz uma diferença enorme na renda familiar. Esse é o principal motivo de as pessoas buscarem estágio para pagar contas de casa e o FIES deve ter participação nisso.” A pesquisa corrobora essa percepção: 75% dos jovens ajudam nas contas de casa.

    Vontade não falta, agora o orçamento…

    Estagiários e aqueles que estão buscando uma oportunidade, estão se preparando mais: o número de respondentes que estão fazendo formação complementar subiu de 25% em 2019 para 29% em 2020. Mas o lastro da crise ainda se faz perceber: mesmo com o aumento da busca por cursos extras, 53% alegaram não conseguir poupar dinheiro e 35% tiveram de adiar os planos de estudar outro idioma, o que leva esses estudantes a uma situação limite entre a vontade de estudar e a impossibilidade de conseguir.

    No entanto, para Tiago, esse é um panorama que vem mudando com o avanço da agenda de diversidade: “Um ponto positivo é as empresas estarem mais flexíveis. Vários dos programas deixaram de exigir inglês, mas deram um curso de inglês durante os dois anos de estágio”, relata a partir da experiência com os programas em que a Companhia de Estágios atua. 

    Preparação realista 

    No que diz respeito ao desenvolvimento dos estagiários, a pesquisa revelou dados positivos: 34% dos entrevistados alegaram já realizar tarefas complexas, por exemplo. Um sinal de confiança e um desenvolvimento adequado para o estagiário que entrará no mundo de trabalho. “O estagiário sempre foi famoso por ‘pegar café’ e sempre foi motivo de piada por causa disso. Isso mudou. Os estagiários são parte importante para as áreas e para as entregas”, diz Tiago. E ele faz uma provocação: não dá para preparar um estagiário para enfrentar os desafios reais do mundo do trabalho se ele só receber tarefas leves e lúdicas. “Espero que o estagiário tenha a possibilidade de se expor para um gerente, se desenvolva fazendo uma atividade difícil — e é o que temos observado”, explica o CEO. 

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    A pesquisa ainda aponta que 40% dos estagiários gostariam de ser efetivados e permanecer na mesma empresa.  “As empresas estão contratando com mais atenção para estágio, porque não é mais uma função operacional e estão se dedicando a desenvolver e segurar essas pessoas”. Os dados de efetivação da Companhia de Estágios dão conta de que nos últimos dois anos a média de efetivação ficou em torno dos 45%.

    Seleção e crescimento 

    Sobre o processo seletivo, 44% relataram apresentar dificuldade em temas que não são relacionados a sua área de formação. Um sinal de que alguns deles ainda podem estar ligados a uma ideia de prova de entrada. “Temos um modelo tradicional no país que é o concurso público. Quem tiver a melhor nota entra. sem levar em conta aspectos comportamentais. E tem muito gestor preso a isso. Ele quer ver o cara com a melhor nota”, diz Tiago.

    Segundo o executivo, um dos caminhos para transformar essa realidade é criar processos seletivos que explorem as habilidades dos candidatos para lidar com situações reais do dia a dia de trabalho. 

    Quando o assunto é mérito e desenvolvimento, 60% dos entrevistados atribuíram seu desempenho à dedicação pessoal. Para Tiago há dois aspectos importantes a serem destacados sobre esse número: nível de maturidade quanto às próprias qualificações e estímulo das próprias empresas a atitude de dono. “Se você pega uma autoavaliação de desempenho de qualquer empresa, a dos estudante é sempre mais alta e a do gestor sempre mais baixa. Outro aspecto é o protagonista de carreira”, explica Tiago, que acredita que os jovens levam a sério a percepção de que precisam fazer acontecer a própria carreira.

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