“Quando chegam novos homens aqui, eles estranham bastante ao me verem com o rosto e o macacão sujos. Mas com o tempo vão se acostumando, porque percebem que, embora eu realize um trabalho geralmente masculino, sou muito profissional. Eles passam a me entender e respeitar.”
Esse ofício a que se refere Vilcilaine Braga é o de pintora industrial. E ela não trabalha num lugar convencional: seu “escritório” é uma plataforma de extração de petróleo da Ocyan (ex-Odebrecht Óleo e Gás), no meio do mar, a 238 quilômetros da Bacia de Santos.
Nem seus turnos são parecidos com o da maioria das pessoas. Ela trabalha 12 horas por dia, numa escala 14 x 14: fica 14 dias direto na plataforma e 14 dias em casa, onde cuida de uma filhinha de 8 anos (nos dias em que está embarcada, a menina fica aos cuidados de sua irmã, pois Vilcilaine é separada).
Seu dia a dia de trabalho é pintar equipamentos em geral que são deteriorados pela corrosão da maresia e precisam ser restaurados e preservados. Um trabalho que muitos homens não encarariam de jeito nenhum.
Para se ter uma ideia, Vilcilaine pinta tanques esvaziados a três metros embaixo d’água, sob iluminação artificial e ar enviado para ela poder respirar. Do lado de cima, também não é mole. Ela já subiu uma escada marinha de dez metros para pintar uma torre de guindaste. E tudo isso convivendo com os riscos inerentes a uma plataforma offshore, como incêndios. A ida e volta ao trabalho é de helicóptero.
Vilcilaine diz que sua supervisora a estimula muito a avançar na carreira, em que pode subir de nível no cargo de pintora e chegar a um posto de supervisão. No total, oito mulheres trabalham na mesma plataforma dessa profissional, dentro de uma equipe de cerca de 40 pessoas.
De acordo com ela, não é fácil trabalhar em ambiente masculino, ainda existe o preconceito, e ela tem de provar e buscar ser melhor a todo momento. Mas acredita que a mudança vem acontecendo, e as empresas estão se adaptando à presença feminina. “Graças aos veículos de apoio da Ocyan e do cliente, contamos com canais de suporte em casos de assédio e ainda com treinamentos e palestras sobre diversidade, nas quais nos sentimos abraçadas.”
Ela já vivenciou situações de preconceito, ficava triste, mas nunca desistiu.