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Conheça as entrevistas às cegas, que tornam as empresas mais inclusivas

O recrutamento às cegas, em que nenhuma informação pessoal do candidato aparece, diminui os preconceitos no processo seletivo. Saiba mais

Por Letícia Furlan
22 set 2021, 07h00
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  • Vieses inconscientes são inerentes ao ser humano e quase sempre interferem nos resultados dos processos seletivos. Tendências ou preconceitos que um indivíduo desenvolve por meio de experiências armazenadas no cérebro de forma inconsciente podem ser determinantes para que um candidato seja aprovado – ou não – para uma vaga.

    “Quando se está buscando alguém para uma posição, o recrutador geralmente vai procurar candidatos nos ambientes que já estudou, pessoas parecidas com ele, dentro de uma mesma bolha. Por isso temos tantos homens brancos, héteros e cisgênero em cargos de liderança, por exemplo. Porque eles vão sempre buscando os seus semelhantes”, diz Cammila Yochabell, fudandora da Jobecam, startup que oferece recrutamento às cegas para as empresas.

    Vivência pessoal virou negócio

    Natural de Mossoró, no Rio Grande do Norte, Cammila enfrentou xenofobia e machismo no mercado de trabalho. Formada em petróleo e gás, mas tendo feito uma mudança de carreira para RH, ela foi morar em São Paulo em 2014 e acabou enfrentando algumas dificuldades na hora de encontrar um emprego. Entre elas, Camilla cita o sotaque potiguar, o fato de estar grávida na época e o seu diploma, que era em petróleo e gás, e não em algum curso ligado à área de RH.

    “Quando eu vim para São Paulo, eu lembro que fui para um processo seletivo em uma multinacional. Fiz cinco entrevistas com cinco pessoas diferentes e o que mais comentavam era que meu sotaque era lindo. Eu acho legal que gostem do meu sotaque, mas, depois de ouvir aquilo pela quinta vez, percebi que a pessoa não estava prestando atenção no que eu estava falando”, relata Cammila.

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    Ela conta ainda que muitos recrutadores faziam comentários também sobre sua aparência. Por ser loira de olhos verdes, muitos se surpreendiam com o fato dela ser nordestina: “Achava que você era gaúcha”, diziam. “Muitas vezes também fui colocada à prova por ser mulher, por estar praticamente sozinha à frente de uma startup, quando estava grávida, o fato do meu diploma ser em petróleo e gás, e não em recursos humanos”, diz. Essas experiências fizeram com que ela tivesse a ideia de criar uma startup que oferecesse recrutamento às cegas – o que evitaria que outras pessoas passassem pelo que ela passou.

    Objetividade no recrutamento

    Com o serviço de entrevista às cegas, os recrutadores não têm como se apegar aos viesses inconscientes na hora de decidir por uma contratação. O candidato pode se apresentar livre de qualquer prejulgamento, uma vez que a Jobecam torna sua identidade – incluindo nome, imagem e voz – anônima.

    Com isso, o que de fato é avaliado é o seu conteúdo e sua experiência. O recrutador não tem acesso ao nome do candidato, que é substituído pelo de seu país, nem à sua imagem, que é substituída por uma animação. A voz, por sua vez, é distorcida e o seu gênero e orientação sexual também permanecem em sigilo durante a entrevista.

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    O cenário está mudando

    A inclusão nos processos seletivos tem sido um tema cada vez mais debatida, por mais que ainda falte bastante para as empresas serem realmente diversas.  Segundo Cammila, o primeiro passo para que uma empresa estruture um programa de recrutamento inclusivo é começar a praticar a inclusão. “Vemos muitas empresas querendo ser diversas e inclusivas, mas pouco fazendo. Não adianta a empresa querer ser diversa, mas não ter a atitude para isso”, explica.

    E o investimento e o empenho das empresas em processos seletivos mais inclusivos costumam ser recompensados. “Muitas empresas estão olhando com um viés financeiro, pensando que vão gastar muito dinheiro. Mas o retorno é muito maior. Times plurais têm mais diversidade de pensamento, são mais criativos, mais interativos. E não precisa ter muito dinheiro. Por exemplo, na Jobecam qualquer pessoa pode criar uma sala de graça. Não precisa de dinheiro, precisa querer”, explica Cammila, que cita que as atitudes devem andar ao lado do planejamento.

    Além disso, é importante que a empresa não queiram um time plural apenas para “posar bonito na foto”, como explica a empreendedora.. “Não adianta contratar mulheres, pessoas negras, LGBTQIA+, por exemplo, sem que a empresa faça com que, de fato, essas pessoas se sintam incluídas e confortáveis naquele ambiente.”

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