Há alguns anos, eu dizia a participantes dos cursos de comunicação assertiva que eu tinha muito receio das pessoas que se autodenominam autênticas, que dizem a “verdade” doa a quem doer. Ao mesmo tempo, tinha uma secreta admiração por pessoas com coragem de expressar suas ideias, por mais polêmicas que fossem.
Com o tempo, a leitura de diferentes autores, a reflexão e a discussão com colegas, fui ressignificando o conceito de autenticidade para mim mesma, o que impactou a forma como eu me expresso e como trato do tema nos cursos.
De sinônimo de sincericídio, passei a compreender que autenticidade é um conceito socialmente construído, resultado das interações sociais que constituem nossa identidade. Portanto, muito mais fluído.
O que é ser autêntico?
Ser autêntico requer um processo de autocompreensão, uma busca pela sua essência em meio às cobranças sociais que nos impõem formas de ser e estar no mundo. Em outras palavras, é um convite a sair do automatismo, de um fazer como todo mundo faz.
É escolher uma foto para colocar no seu WhatsApp ou LinkedIn que não seja necessariamente você, num fundo cinza, de braços cruzados olhando para o horizonte, porque pode ser que seja mais você uma foto em meio a natureza, de braços abertos. E há quem vá te dizer que essa foto não está “profissional” e você está tão bem com o quanto ela te representa, que essa avaliação não te afeta nem te faz mudar de foto.
É saber que todo mundo marca reuniões com 1 hora e você sabe que só precisa de 25 minutos para essa conversa. Então, o convite enviado aos envolvidos tem essa duração, mesmo que o estranhamento seja generalizado.
É entender que seu estilo de liderança e o momento do time combinam com uma conversa sem pauta com o time, numa quarta-feira, em que você mais vai ouvir do que falar, mesmo que no começo as pessoas estranhem, fiquem em silêncio e custem a entender essa ação “excêntrica”.
É contrapor e fazer objeções naquela reunião sempre tensa, porque o silêncio vai fazer mal não só para você, mas para as pessoas a seu redor e até para o negócio. Afinal, há afirmações que, se não forem feitas em nome de um clima amistoso, podem ser danosas a curto, médio ou longo prazo.
Pelos exemplos acima (e tantos outros que poderia listar), autenticidade não é sinônimo de violências verbais e sincericídios, como eu mesma associava há algum tempo. Porque falar como quiser, doa a quem doer, tem mais a ver com criar polêmica pela polêmica, com relações tóxicas e com clima de insegurança psicológica do que com ser autêntico.
Mergulhar nesse conceito me ajudou a entender autenticidade numa relação intra e interpessoal. Hoje entendo que a palavra está mais associada a um não automatismo, à originalidade e à coragem de ser vulnerável, uma atitude que ajuda a cada pessoa e a cada marca ou empresa a não embarcar em modismos (com os quais nem sempre concordamos).
Pois é, embora as palavras pareçam ser um retrato do mundo, como uma fotografia da realidade, elas são um trato do mundo, fruto de escolhas, de um significar e ressignificar constante, a partir de nossas experiências, nossas leituras de mundo e da sociedade em que vivemos.
Por isso mesmo, é importante buscar compreender, a partir de diferentes fontes (de dicionários, teóricos a pessoas com quem convivemos ou quem admiramos), os usos e sentidos de palavras que permeiam o seu dia a dia.
Clareza, diálogo, lugar de fala, vulnerabilidade são alguns dos termos que compõem um glossário que elaborei a partir desse exercício com a palavra autenticidade. Convido você a acessá-lo e a participar dessa construção de sentidos de palavras que habitam a comunicação e cujos sentidos nem sempre estão claros ou delineados em sua complexidade.