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João Roncati

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João Roncati é especialista em mudança organizacional, cultura e estratégia e CEO da consultoria People+Strategy

Ao responder sobre “estratégia”, ChatGPT não passa do superficial

Depender da IA pode atrapalhar o desenvolvimento de habilidades de um profissional. Por enquanto…

Por João Roncati, colunista de VOCÊ RH
13 jun 2023, 13h21
Um robô cinza está sobre um fundo de tijolos verdes. Na parede, sobre a cabeça do robô, há uma lâmpada desenhada
 (Westend61/Getty Images)
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O

ser humano busca um método e quase que uma fórmula milagrosa para obter respostas para todas as perguntas. Somos incansáveis em procurar esses atalhos, não por ignorância ou imperfeição, mas por instinto. Somamos a necessidade de ser eficientes e a de tomar decisões quase reativas para poupar nossas vidas e que garantam uma boa caçada. Isso está em nosso DNA. 

A Inteligência Artificial (IA) há tempos vem sendo uma promessa de ser mais um atalho para isso. Ao que tudo indica, ela carrega um bom potencial. Por isso o grande alarde com a rápida disseminação do ChatGPT cria enormes expectativas, anseios e receios.

Para nós, profissionais que têm filhos, a primeira reação foi se preocupar se os seus “rebentos” estariam usando a tecnologia para fazer trabalho de escola. Surpresa aos leigos: este seria o uso mais trivial da IA. 

Ato subsequente, passamos a imaginar como poderiam usar esta e outras ferramentas no ambiente de trabalho. Quem sabe ela consegue ir além da compilação de referências e começa a indicar caminhos? Alto lá. Fizemos alguns testes.

Adotamos o ChatGPT e relacionamos algumas perguntas sobre temas que são muito importantes em ambientes competitivos. Quero expor algumas dessas interações e, principalmente, como vejo a qualidade do que foi apresentado.

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O que é Estratégia?

Nosso primeiro teste foi buscar no ChatGPT a definição de estratégia. A resposta que conseguimos é, num primeiro momento, surpreendente. Um leitor sem familiaridade com o tema poderá achar valiosa e até utilizar num trabalho escolar. É realmente uma novidade e é espantoso conseguir em segundos uma compilação de informações tão extensa.

Mas, para um leitor ou para quem se aprofundou no tema, a qualidade da resposta é muito ruim. Isto mesmo: tem o nível de um livro simplório de administração de empresas, com conceitos anacrônicos e confusos. Fruto de uma compilação não refletida que soma elementos comuns encontrados em bancos de dados. Muito provavelmente, as fontes são livros e artigos não-especializados, até trabalhos escolares e comentários disponibilizados na internet. 

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Vejam trechos abaixo:

Estratégia é um conjunto de planos e ações coordenadas que uma pessoa, organização ou empresa utiliza para alcançar seus objetivos e metas de longo prazo. Em essência, a estratégia é o processo de definir o que se quer alcançar e como se pretende chegar lá.  

Claramente, a definição tem origem em textos não-acadêmicos atuais ou especializados, ou ainda em textos obsoletos. A definição de estratégia mudou na década de 1990, fruto da observação das melhores práticas e de pesquisas, e não é mais utilizada como conjunto de planos, mas como posicionamento de mercado, que inspira o planejamento, onde nascem os planos. 

A estratégia não deve ser confundida com o exercício operacional e a execução. O fechamento do parágrafo é ainda mais inadequado neste sentido: Em essência, a estratégia é o processo de definir o que se quer alcançar e como se pretende chegar lá. Esta é a definição de planejamento. E assim segue todo o texto, onde estratégia é definida quase que completamente como planejamento

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E aí alguém poderia dizer, como já ouvi: “Purismo conceitual! O texto oferecido é pragmático”. Ledo engano. Aliás, boa justificativa para quem acredita que o uso correto de palavras e o que elas significam não muda a forma de mobilizar, refletir e organizar pessoas para a ação. Eu não acredito nisso. Os conceitos, ajustados e corretos, nos permitem focar os melhores recursos e esforços para um desafio. 

A mudança da literatura de administração na década de 1990 para os anos 2000 não foi casual. Ocorreu a partir de extensas observações da prática de corporações e foi modelada, neste campo, para influenciar métodos e abordagens mais efetivas. A contraposição entre Henry Minstzberg e Ygor Ansoff não é materializada no campo acadêmico (que apenas organiza), mas na prática de empresas como Toyota e tantas outras, longevas e muitas vezes vitoriosas. Por isso, são estudadas com frequência.

Ao pedirmos ao ChatGPT um resumo da resposta, o texto oferecido fecha com uma excelente frase, esta sim, descrevendo o papel da estratégia: é fundamental para alcançar o sucesso a longo prazo em qualquer empreendimento. Por isso, compreendê-la e exercitá-la é tão importante num mundo marcado pela complexidade contínua e crescente.

Em minha visão, as IAs estão concretizando e materializando saltos que até aqui pareciam apenas capítulos de narrativas de ficção. A sua atual capacidade de compilação rápida de informações que é apresentada de forma organizada nos permitirá saltos de eficiência. Mas, neste momento, eu ressalto: elas ainda produzem textos bastante superficiais cujo valor precisa ser delimitado — Muita gente vai se assustar com uma nota ruim num trabalho, avisem seus filhos! —, sem falar das questões autorais, amplamente discutidas em várias mídias.

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Muito provavelmente isso será corrigido num futuro próximo, mas, até lá, a ferramenta deve ser usada com reserva. Seus textos são boas referências, mas não conseguem alcançar o olhar especializado ou orientar a prática que requer um mínimo de complexidade para ampliarmos a capacidade competitiva de uma empresa. E, portanto, podem atrapalhar ou trazer pouca contribuição no desenvolvimento de competências de um indivíduo ou organização.

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