A primeira vez que ouvi falar sobre resiliência foi em uma quadra de tênis – na minha outra carreira e no que hoje parece uma outra vida -, quando eu era assessora de imprensa do tenista número um do mundo, Gustavo Kuerten. Era um dia de sol escaldante. O Guga enfrentava um longo treino, com horas de repetição de golpes e movimentos. Lembro de ouvir o técnico dele, Larri Passos, gritar insistentemente: “Resiliência! Resiliência!”
Fiquei com aquela palavra na cabeça, não só naquele dia. Nunca mais deixei de analisá-la. Na época, percebi que no esporte e, especificamente, no tênis essa habilidade é muito necessária para o sucesso. Pense em quantas vezes esportistas em geral perdem até ganhar? Quantas vezes um tenista está a um ponto da derrota e busca força e resiliência para se “manter vivo” durante mais algumas horas em quadra até encontrar uma maneira de virar o jogo e sair vencedor?
Fui me aprofundar mais ainda nos conceitos e nas boas práticas da resiliência na The School of Life. Afinal, assim como no esporte, ela é uma das habilidades emocionais fundamentais para qualquer empreendedor conseguir fazer um negócio prosperar. Isso, especialmente, em momentos de crise, ou melhor, em momentos pandêmicos, como o que estamos vivendo agora.
Coisas ruins acontecem o tempo todo
A resiliência, aprendi, não é apenas a maneira como encaramos as adversidades, mas como nos recuperamos delas. Os ensinamentos a respeito dela vem lá da Grécia Antiga, mais precisamente com os estóicos liderados pelo filósofo Sêneca. São as reflexões dele que nos lembram que coisas ruins acontecem o tempo todo.
Desde sempre houve guerras, incêndios, catástrofes naturais e doenças avassaladoras. Portanto, devemos estar prontos para enfrentá-las, em vez de acreditar que elas acontecem e podem ser ignoradas. Temos de desafiá-las de frente e olhar para todas as opções em meio ao caos.
É de Sêneca a frase que diz: “Para encontrar calma não imagine o que provavelmente acontecerá, mas o que pode acontecer”. Em outras palavras, imagine o pior, leve suas preocupações ao limite e mapeie as perdas. Para ele, o caminho para a força é acender a luz no quarto do medo e ver o que realmente há ali.
Se houvesse uma enchente, como poderíamos lidar? Se houvesse uma peste, como poderíamos administrar? Se há uma pandemia e uma quarentena que não parece estar perto de terminar, como encarar? Para Sêneca isso é a verdadeira resiliência, muito diferente de fechar os olhos, ou, como dizemos aqui, tapar o sol com a peneira e ficar imaginando o final feliz, até que ele não chega e nos vemos sem rumo.
Força durante as crises
É nisso que tenho me apoiado sempre que, no meio dessa pandemia, me sinto como se estivesse nadando horas e horas, chegando a uma ilha e sendo derrubada por mais uma onda. Nesses momentos, devemos colocar em ação o pensamento estóico para nos lembrar que somos mais forte do que pensamos ou, se você preferir, muito menos frágeis do que supomos.
O também filósofo e fundador da The School of Life, Alain de Botton, é enfático ao dizer que “uma parte considerável da arte de viver é ter resiliência”. Conseguimos aguentar uma quantidade enorme de reveses e seguir em frente. Aprendemos com o sofrimento e as lições do passado e, por fim, como humanidade, quantas vezes já passamos por situações piores do que essa e seguimos em frente, de alguma forma? Somos uma fortaleza.
Ao pensar na resiliência lembro do caminho que já percorremos nos últimos seis, quase sete meses de pandemia. Quanta transformação em tão pouco tempo; vejo as oportunidades que se abriram. Sairemos ainda mais fortes dela. No caso da The School of Life, que da noite para o dia transformou as atividades presenciais em São Paulo para o formato online, no mínimo, superaremos esse período com um novo conhecimento, um novo tipo de negócio e um alcance da inteligência emocional em todo o Brasil, com a certeza de que somos seres adaptáveis.
Não é fácil, mas é possível, principalmente se, cada vez que estivermos enfraquecidos, nos lembrarmos que temos a sabedoria estóica para nos apoiar!