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Conrado Schlochauer

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Doutor em Psicologia da Aprendizagem pela USP, sócio da nōvi – a lifewide learning company, e autor do livro "Lifelong Learners"
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Deixe o script de lado em suas apresentações

A falta de espontaneidade na comunicação corporativa tem sabotado a transmissão de informações e emoções. Momentos fora do roteiro têm mais impacto.

Por Conrado Schlochauer, colunista de VOCÊ RH
15 mar 2024, 14h18
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  • Todos já passamos por isso.

    Estamos em um evento, a pessoa convidada para falar sobe no palco ou tem sua tela destacada no Zoom. Ela agradece e começa sua apresentação. Entre incrédulos e incomodados, olhando uns para os outros, procuramos confirmar o óbvio: “Está lendo, né?”, alguém sussurra.

    A fala em geral sai um pouco robótica, a entonação soa artificial e qualquer conexão com o conteúdo torna-se um desafio. Nessas situações, são poucos os que têm habilidade e naturalidade para gerar engajamento com o público, ainda mais no mundo corporativo. Mesmo os melhores textos têm dificuldade para sobreviver a mais do que 3 minutos de leitura nessas condições.

    No apoio a desenho de eventos corporativos, já participei muitas vezes de discussões que levaram à escolha pela leitura de uma apresentação. As justificativas são diversas – excesso de conteúdo, insegurança de quem vai falar, aversão patológica ao risco ou até falta de tempo para o preparo. Entretanto, na maioria das vezes, percebo que a gênese dessa decisão é uma só: nosso medo de errar. Odiamos ser julgados.

    Essa escolha, para mim, reproduz uma lógica que impera no ambiente corporativo: buscamos reduzir ao máximo o risco associado às nossas ações, especialmente quando sentimos que estamos expostos à inspeção do outro. Influenciados pela ideia de que precisamos ostentar um eu totalmente à prova de falhas, optamos por seguir um caminho seguro e previsível. O resultado? Falta de criatividade e baixa conexão com o público.

    É interessante notar que os momentos fora do script – literalmente – são os que causam impacto verdadeiro. 

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    Este ano, eu estava fazendo uma palestra para um grupo de tecnologia que tinha realizado muitas aquisições. Ao estudar a empresa, fiquei impressionado com o trajeto. O fundador tinha uma história linda de empreendedorismo: há mais de 30 anos, ele identificou precocemente o papel que a internet teria na sociedade e construiu seu negócio a partir dessa visão.

    Era um encontro de líderes e o formato estava todo bem ensaiado. No meio da minha palestra, quando estava falando de curiosidade, não me segurei, chamei o fundador na tela e perguntei: “Como é que você teve a ideia para começar isso tudo?”.  Não tinha sido combinado, mas eu estava genuinamente interessado na história. E, pela breve conversa que tivemos antes de começar o evento, intuí que a pergunta caberia naquele momento. 

    O diretor de RH que me contratou confiou em mim, mas ficou surpreso com a pergunta inesperada. O fato é que a resposta foi maravilhosa (e longa!). No fundo, foi uma ótima oportunidade de apresentar para os líderes das empresas adquiridas qual a origem e valores do grupo em que estavam entrando.

    Sem medo de errar

    Temos falado muito da importância de saber lidar com os erros nas organizações, mas a verdade é que eles ainda são um fantasma enorme. 

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    Buscamos segurança psicológica para nos expressarmos sem medo de julgamento. Somos convidados a “errar rápido e aprender sempre” em todos os eventos de inovação e mentalidade ágil de que participamos. Mas, quando chega nossa vez, ficamos muito mais confortáveis no quentinho da tradição do que com o frio na barriga de fazer diferente. 

    As aberturas de treinamento, os slides do workshop de feedback ou o padrão dos personagens dos elearning obrigatórios são os mesmos há décadas. Somos tão questionados, que proliferam nas redes sociais memes tirando sarro das dinâmicas de RH.

    A pasteurização da comunicação corporativa, em todos os formatos, tem erodido a capacidade de transmissão de qualquer tipo de informação ou emoção. Os vídeos e as peças são todos parecidos, com músicas heroicas, letterings em excesso e frases óbvias. E, pode reparar, as comunicações que mais chamam a atenção são as que têm coragem de ir além do óbvio.

    (Sei que estou generalizando, existem ilhas de coragem e inovação nas empresas. Mas infelizmente, elas ainda são pouco influentes no processo. O tortuoso caminho de aprovações e o excesso de regras aliados ao medo de errar ainda silencia as poucas vozes ousadas.)

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    A Inteligência Artificial vai ser uma parceira de brainstorming e criação cada vez mais maravilhosa. Textos, imagens e vídeos ficarão incríveis com muito pouco investimento de tempo e recursos. Mas, depois de uma onda inicial, as pessoas se habituarão a esses formatos também, e mais uma vez serão os olhares e vulnerabilidades humanas que criarão conexões significativas com os times.

    Fazer pela primeira vez (que é sinônimo de sair do padrão) é arriscado. Meu convite é para ousarmos pelo menos quando já sabemos o que não vai dar certo. Esse é o caso de leitura de texto em apresentações. Se o conteúdo é tão denso que o menor erro passa a ser considerado um risco, talvez valha a pena enviar o conteúdo por escrito para as pessoas.

    Mas, se sua intenção é se comunicar de verdade, gerando conexão e transmitindo sua mensagem, fale de peito aberto e com simplicidade. Atue como qualquer ser humano que sabe que pode errar e assuma, sem pudor, uma ficha na mão com os lembretes da sua fala.

    Se você tem insegurança, pratique, pratique e pratique. Mas não tenho dúvida de que o calor e a verdade de sua fala genuinamente amadora suplantarão qualquer perfeição ilusória do texto ideal lido com uma entonação artificial e fria. 

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