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Ana Carolina Souza

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Neurocientista e sócia da Nêmesis, empresa de educação corporativa na área de neurociência organizacional
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O impacto do ChatGPT na criatividade

O ChatGPT é uma ótima ferramenta, mas seu impacto sobre a criatividade e o potencial de inovação das empresas depende de como iremos utilizá-la

Por Ana Carolina Souza, colunista de VOCÊ RH
Atualizado em 27 abr 2023, 14h24 - Publicado em 25 abr 2023, 10h10
Uma mulher está sentada em um sofá, tem cabelos curtos e grisalhos e usa um fono de ouvido. Ela mexe no celular e, atrás dela, há prateleiras com plantas
 (Pexels/cottonbro studio/Divulgação)
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E

m meio a tantas mudanças que deixam claro o ritmo acelerado que gira o mundo, o ChatGPT, sem dúvida, se tornou um desses avanços tecnológicos que tem dado o que falar. Por se tratar de um sistema baseado em um tipo de inteligência artificial “pré-treinada”, o ChatGPT consegue entender melhor a linguagem natural das pessoas e gerar resultados mais precisos para as demandas de seus usuários, sendo capaz inclusive de seguir “aprendendo” e evoluindo a partir das informações que recebe.

Tamanha fluidez e eficiência na sua capacidade de predição conferiu rapidamente ao aplicativo algumas responsabilidades antes atribuídas aos humanos: elaborar canções, poemas, escrever textos, resolver questões complexas e compartilhar referências foram algumas das atividades que vimos ser rapidamente delegadas para nosso novo “amigo bot”. A adesão tem sido tamanha que algumas pessoas têm inclusive considerado o ChatGPT um bom substituto para terapia.

Em meio ao novo boom de uso dessa ferramenta, surgiu em mim um questionamento: Qual será o impacto do ChatGPT na nossa criatividade?

Considerada uma das principais habilidades do futuro, a criatividade faz parte do conjunto de habilidades humanas mais valorizadas atualmente pelas organizações e profissionais que buscam se manter competitivos no mercado de trabalho. Assim, é fundamental falarmos a respeito dos possíveis impactos do uso dessa ferramenta sobre o potencial de inovação dentro e fora das organizações.

Para começar, vou apresentar brevemente como funciona o processo criativo no cérebro. A criatividade é algo natural para os humanos, mas, assim como outras habilidades, precisa ser desenvolvida. Integrando processos conscientes e inconscientes altamente complexos, hoje sabemos que a criatividade não é um “dom” e que os estímulos do ambiente possuem um papel importante no seu desenvolvimento.

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Uma forma didática de explicar como funciona o processo criativo no cérebro é dividindo-o em quatro etapas:

1ª) PREPARAÇÃO: Etapa associada a tudo aquilo que fazemos para nutrir o cérebro com referências, aumentando o que chamamos de Espaço de Possibilidades. Quanto mais diversas forem essas referências (pessoas, histórias, filmes, músicas, culturas, conceitos, experiências etc.), maior será o potencial criativo.

2ª) INCUBAÇÃO: O famoso “ócio criativo”. Quando vivemos momentos de abstração e relaxamento, há um aumento da ativação de uma rede cerebral chamada DMN (Default Mode Network) que favorece a formação de novas conexões entre os neurônios. É justamente a partir desse processo que surgem novas ideias e, por isso, a diversidade do Espaço de Possibilidades é tão importante.

3ª) INSPIRAÇÃO: O momento “Eureca!”, quando tomamos consciência de uma nova ideia que se formou. É um momento chave do processo, porém muito sensível. É comum esquecermos as ideias, mesmo pouco tempo depois de tê-las. Por isso, a dica é sempre registrar quando elas surgem. Por estar associada a etapa 2, é comum ter novas ideias em momentos em que estamos mais relaxados, como na hora de dormir, durante o banho ou uma caminhada.

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4ª) IMPLEMENTAÇÃO: Aqui, o processamento cerebral passa a estar associado a outra rede neural, chamada TPN (Task Positive Network). Com atividades associadas a foco e resolução de problemas, esse é o momento em que nos dedicamos a aprimorar as ideias. O processo é fundamental para que as ideias saiam do papel e gerem bons resultados e aprendizados.

E como o ChatGPT se encaixaria nesse processo?

Num primeiro momento podemos considerar que seria uma ótima ferramenta para se adquirir novas referências e diversificar nosso conhecimento, aumentando o Espaço de Possibilidades. Mas um ponto a ser observado é a qualidade das informações que iremos consumir. Para isso, devemos aprender a realizar boas perguntas e ampliar nosso senso crítico para que não sejamos reféns de informações superficiais, enviesadas e até mesmo equivocadas que possam ser compartilhadas pela ferramenta. Por se tratar de conteúdos bem escritos e elaborados, é fácil uma pessoa com pouco conhecimento sobre um determinado assunto “se convencer” de que a informação compartilhada pelo ChatGPT é válida, ou mesmo, suficiente. Buscar referências de confiança que sejam complementares às informações compartilhadas pelo sistema pode ser uma boa forma de compensar isso.

Por outro lado, quando bem aplicada, a ferramenta pode sim acelerar a busca por referências e ampliar o conhecimento de uma pessoa a respeito de um tema, o que facilitaria o processo criativo. Uma aplicação interessante para as organizações seria incluir o ChatGPT como uma fonte complementar de informações a serem compartilhadas em reuniões periódicas das equipes para troca de conhecimento e experiência, diversificando ainda mais o número de referências compartilhadas. O fato de termos um grupo discutindo um conteúdo reduz o impacto de respostas superficiais ou enviesadas feitas pela ferramenta, já que teríamos mais pessoas com senso crítico para contribuir com o debate.

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Outra ideia seria o uso do ChatGPT para realização de tarefas mais simples e triviais, como revisão e aprimoramento de texto, criação de sínteses, cartas ou listas de referências. Ao otimizar o tempo investido nessas atividades rotineiras, teríamos mais tempo livre para exercitar o ócio criativo, discutir novas ideias, planejar a implementação dos projetos de inovação, orientar as equipes etc.

Considerado uma etapa fundamental do processo criativo, o período de Incubação hoje sofre com o excesso de estímulos e demandas que existem dentro das organizações. É comum ver equipes cada vez mais sobrecarregadas e pouco criativas, sofrendo com a constante percepção de falta de tempo e excesso de ansiedade. Nesse ponto também precisamos ter atenção! Se não formos capazes de aproveitar o tempo livre adquirido de forma adequada, seguiremos sem períodos de qualidade para exercitar o ócio criativo, lotando a agenda cada vez mais com reuniões e tarefas corriqueiras.

Por último, se o uso da ferramenta for direcionado para resolver problemas complexos de forma imediatista, cedendo às pressões de uma cultura de urgência e produtividade tóxica, certamente veremos impactos negativos também sobre as etapas de Inspiração e Implementação. E correremos o risco de ter uma equipe que segue sobrecarregada e não desenvolve seu potencial criativo de forma adequada, nutrindo um ambiente organizacional cada vez mais medíocre e suscetível às falhas e limitações da própria IA.

Está claro que o ChatGPT é uma ótima ferramenta, mas seu impacto sobre a criatividade e o potencial de inovação das empresas depende diretamente de como iremos utilizá-la. Assim como na adoção de outras tecnologias, devemos pensar estrategicamente sobre seu uso e em como isso contribui para nossa saúde, performance e desenvolvimento. Vale ressaltar também que o ChatGPT é apenas uma ferramenta desse tipo, mas existem várias e todas farão parte da nossa rotina dentro e fora das organizações. Entender a fundo como funciona o comportamento humano nos ajudará a adequar rotinas e processos para que as empresas tenham o melhor dos dois mundos, utilizando a tecnologia para potencializar as habilidades humanas e vice-versa.

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Por aqui, sigo refletindo qual seria o melhor uso do ChatGPT em minha rotina… Quem sabe ele pode me ajudar a criar roteiros de viagem? Ou revisar meus textos? Por hora, esta coluna segue sendo escrita integralmente pelos meus neurônios. E vocês, como têm feito uso dessa tecnologia?

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