e tem uma coisa que a pandemia de covid-19 deixou bem claro para todos nós é que temos pouco (ou nenhum) controle sobre a vida. Enquanto me concentro para escrever a coluna, tento digerir o fato de que positivei para covid pela segunda vez em menos de um mês, algo considerado raro. As vacinas cumprem o seu papel e me sinto bem fisicamente, mas sou confrontada com o vazio de uma rotina que não vem associada ao alívio do trabalho que termina, e sim à angústia que toma conta sempre que o nosso planejamento “vai pro espaço”.
Distanciamento social, máscaras e cuidados básicos já não são mais protocolos estranhos; na verdade se tornaram velhos conhecidos. Mas se tem algo com que ainda precisamos aprender a lidar é justamente essa necessidade de adaptar todo o planejamento de uma vida repleta de compromissos, de uma hora para outra. O que fazer com as entregas, os clientes, a família? Vejo minha agenda da semana e começo a pensar nas melhores alternativas para garantir que tudo se mantenha sob controle… aquele mesmo controle que, no fundo, sei que não tenho! Doente de novo, que azar…três respirações profundas, vamos nos acalmar.
Neste caso, sou eu. Mas poderia ser alguém da minha família, da minha equipe ou qualquer outro tipo de imprevisto. Essa não é a primeira, nem a última vez em que terei que rever meus planos e aposto que você também já se sentiu assim. Nesses momentos, temos que admitir em voz alta que o planejamento não funciona. Não porque foi malfeito, mas porque a vida é, até certo ponto, imprevisível. Lidar com esses contratempos é algo que confronta diretamente um dos imperativos da vida moderna, o tão sonhado equilíbrio. Vivemos com a impressão de que existe uma fórmula mágica, uma estratégia para organizar a rotina, e que se a gente se dedicar bastante vai conseguir dar conta de tudo! Observamos um tanto quanto admirados as pessoas que projetam essas imagens nas redes sociais e nos questionamos o quanto falta para chegar lá. No fundo, todos gostaríamos de viver o equilíbrio sublime de uma vida perfeita. Mas essa vida, bem planejada, constante e livre de imprevistos, não existe de verdade.
Então será que devemos abandonar a busca pelo equilíbrio de vida? Claro que não! Mas devemos reconhecer que esse equilíbrio é dinâmico. É como andar de bicicleta, devemos nos manter em movimento. A vida segue seu curso e volta e meia apresenta um novo desafio. Sempre que isso acontece, devemos ser capazes de reconhecer rapidamente que aquele planejamento não é mais adequado e, considerando as novas circunstâncias, criar um novo plano de ação.
Ao ser capaz de adaptar rapidamente os planos anteriores, desenvolvemos uma habilidade muito valorizada atualmente, a flexibilidade. Vejo novamente a agenda da semana, muitas apresentações, aulas e eventos contam com a minha presença, mas não será possível desta vez. O que eles precisam, suas expectativas? Quais são as entregas? Com quem posso contar? Para cada uma das demandas, busco uma solução diferente. Minha flexibilidade é amparada por alguns processos fundamentais:
(1) Exercitar continuamente a criatividade e reconhecer que existem várias formas de resolver um mesmo desafio;
(2) Nutrir relações de confiança dentro da equipe, ou seja, estou segura de que outras pessoas são capazes de desenvolver bem as atividades;
(3) Manter a calma em momentos desafiadores.
Começo a entrar em contato com as pessoas. De forma clara, apresento a situação, peço desculpas pelo imprevisto e trago sugestões de como podemos seguir adiante. Dentro das novas possibilidades, ofereço apoio, converso e escuto atentamente a opinião de todos. Criamos novas soluções e o planejamento é atualizado. O novo planejamento atende a todos, a agenda é reorganizada.
Acreditamos que as pessoas resilientes não sofrem com os desafios impostos pela vida, mas isso não é verdade. A resiliência diz respeito a nossa capacidade de passar por uma situação de estresse e se recuperar rapidamente.
Mesmo depois de todos os ajustes feitos, ainda sinto que há algo para ser digerido. Lá no fundo, reside ela, a frustração. Doente de novo, que azar…três respirações profundas. As soluções foram criadas, mas eu queria mesmo era seguir o meu plano anterior. Queria não estar doente, participar dos eventos, conversar com os clientes, viver aquela vida planejada que parecia perfeita para encerrar o ano com chave-de-ouro. Observando meu próprio comportamento, reconheço a demanda por mais uma habilidade emocional que tanto ouvimos falar: a resiliência. Acreditamos que as pessoas resilientes não sofrem com os desafios impostos pela vida, mas isso não é verdade. A resiliência diz respeito a nossa capacidade de passar por uma situação de estresse e se recuperar rapidamente. Em outras palavras, pessoas resilientes também têm estresse, mas apresentam uma resposta adaptativa mais eficiente. Faço comigo mesma o que tento ensinar aos outros: Penso a respeito do que eu queria, reconheço que isso não é possível no momento e busco uma alternativa que possa ocupar o que eu chamo de “segundo lugar”.
Para treinar a resiliência, não precisamos fingir que não estamos sentindo tristeza, raiva ou frustração. Pelo contrário: devemos reconhecer a presença dessas emoções. Mas também podemos buscar racionalmente alternativas que tragam experiências positivas para equilibrar o que estamos sentindo. O que seria bom também? Não precisa ser um substituto perfeito, basta que seja uma alternativa que traga algum tipo de experiência positiva. Escolha um caminho e faça!
Repito em voz alta que está tudo certo, três respirações profundas…vai passar!
A vida seguirá sendo cada vez mais imprevisível, por isso, o que desejo para você neste final de ano é que você desenvolva sua resiliência, treine sua flexibilidade e viva um equilíbrio de vida possível. As coisas nem sempre sairão conforme o planejado, mas o mais importante é que você se sinta satisfeito com o resultado final e saiba lidar com as suas emoções. Que ao longo de 2023 possamos aprender a viver com os novos imperativos da vida moderna e desenvolver cada vez mais as nossas habilidades emocionais.
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