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Como funcionam as fazendas de cliques e onde elas ficam

Como webfundiários cultivam o comércio de curtidas, enganam a audiência e prejudicam empresas.

Por Marcia Kedouk
Atualizado em 5 dez 2020, 19h12 - Publicado em 26 jan 2018, 09h00
Pessoas usando celulares nas ruas de Tóquio (Atsushi Tomura/Getty Images/)
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Mil seguidores no Instagram saem por 12,79 reais. Mil “followers” no Twitter já são um produto mais caro – 20 dólares – e 5 000 curtidas em um post do Facebook valem 39,99 dólares. O pagamento é via Paypal, diz um dos vários sites dedicados a angariar audiência de publicações nas redes sociais.

Essas empresas, a maioria de origem desconhecida, muitas vezes se valem dos serviços das click farms, as fazendas de cliques que inflam a popularidade de aplicativos e páginas na internet. Esses locais abrigam centenas de celulares conectados 24 horas por dia à internet que geram acessos, downloads, avaliações positivas de produtos e serviços, curtidas e compartilhamentos em páginas dos contratantes.

O controle pode ser feito por pessoas que cumprem manualmente a função ou, o método mais moderno, com o uso de uma tecnologia que automatiza o processo, simulando a ação humana em perfis nas redes sociais com um sistema que controla uma grande quantidade de dispositivos. “Essa prática existe há muito tempo, desde quando se comprava visitas em sites para que eles ganhassem relevância no mecanismo de busca do Google”, afirma a consultora e pesquisadora em mídias sociais Carolina Frazon Terra, professora de pós-graduação em comunicação digital da Universidade de São Paulo (USP). “Essas iniciativas ganharam mais destaque com as mídias sociais.”

A ação das fazendas acontece a partir de países como Bangladesh, Egito, China, Tailândia, Rússia, Índia e Nepal. “Os lugares onde eles buscam pessoas para executar esse serviço apresentam, na maioria dos casos, índice alto de subemprego e uma desigualdade social muito grande, mesmo que alguns desses locais tenham expressivo desenvolvimento tecnológico”, diz Carolina. “Não conheço nenhuma empresa estabelecida no Brasil. Mas, se você fizer uma busca por compra de seguidores, vai encontrar várias opções.”

Barato sai caro

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Os prejuízos para quem compra os serviços dos click farmers podem aparecer em pouco tempo. “Esses seguidores não trazem engajamento e, sim, uma falsa sensação de visibilidade”, diz Carolina. “Não há um real benefício, porque o que agrega valor para a marca é o relacionamento construído com o público.”

A página ou produto pode ter milhares de curtidas, o que chama a atenção de anunciantes e melhora a visibilidade em sistemas de busca, mas inexpressiva interação real, o que levanta suspeita. Numa dessas limpas que plataformas como Facebook, Twitter e Instagram fazem para eliminar perfis falsos, eles podem acabar com os pseudosseguidores comprados. Perda de dinheiro e de tempo.

As corporações também podem ser lesadas com a ação dos webfazendeiros. Quando uma companhia se promove no Google ou em redes sociais, ela paga um valor cada vez que alguém clica sobre o anúncio ou post patrocinado. Os farmers atuam produzindo acessos a esses conteúdos publicitários dos concorrentes das empresas que os contratam. Com o grande volume de cliques, a verba dos rivais acaba logo e o conteúdo, que nem chega a ser visualizado por muitos clientes potenciais —e reais—, deixa de ser exibido, abrindo o caminho para quem pagou pela fraude.

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Para os consumidores, os danos são ser induzido a acreditar em falsos influenciadores digitais, que compram seguidores, e achar que um produto ou serviço é bom pelo alto número de curtidas ou avaliações positivas. As fazendas de cliques oferecem até a opção de download de aplicativos nas lojas online para aumentar a relevância do produto.

A audiência inflada e o grande volume de compartilhamentos podem ajudar, inclusive, a aumentar a credibilidade de sites que disseminam notícias falsas. Existem páginas na internet dedicadas a fake news, que espalham artigos inventados com o objetivo de atacar ou promover pessoas e instituições. Os administradores desses sites compram anúncios nas redes sociais para espalhar as mentiras – e os desavisados acham que os números vistosos de popularidade, conquistados muitas vezes com o auxílio das click farmers, atestam a veracidade dos fatos.

Para se precaver, a saída é observar a quantidade de interações reais nas páginas, como os comentários, que costuma ser baixa em perfis enganosos. E, antes de fazer uma compra, baixar um aplicativo ou acreditar em notícias, procure informações especializadas em fontes que têm uma história construída com base em credibilidade — e não em curtidas.

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