Conciliar filhos e carreira: um privilégio que traz satisfação e saúde mental
Ter flexibilidade para cuidar das crianças não tem preço. Felizmente, algumas empresas já entenderam: ao investir no bem-estar parental, todos saem ganhando.
Em 2015, lancei meu primeiro livro e tive minha primeira filha, Maria Luísa, a Malu. Só não plantei árvore naquele ano tão especial. Como, na época, era um jornalista autônomo, me via como senhor do meu tempo e escolhia quando e onde fazer passeios com ela no sling. Também era o responsável por todos os seus banhos e as refeições da família.
Em 2018, lancei meu segundo livro e tive minha segunda filha, Cecília, a Ceci. Quando ela tinha um ano e meio, começou a pandemia e nos trancamos no apartamento. Eu e minha ex-mulher (ainda éramos casados naquele período), a Ju, transformamos nosso quarto num coworking para dois, e meus sogros cuidavam das meninas enquanto trabalhávamos.
Mas elas sempre nos venciam. Batiam à porta, queriam nossa companhia, invadiam reuniões online. Era enlouquecedor. Mas era bom também. Fazíamos todas as refeições com elas, intervalos para estar com as duas menininhas. Enchê-las com nosso afeto e receber todo aquele amor de volta.
Hoje tenho a satisfação de trabalhar num modelo de muito home office, o que me dá flexibilidade, e, nos meus dias com elas, posso ir pegá-las na escola no fim da tarde. Esse esquema é um fator-chave na minha vida, pois Malu e Ceci criam reservas de felicidade para os dias mais sombrios.
Não há emprego que pague o valor de cada segundo que estou com elas.
Mas eu sei: tenho um privilégio que poucos têm.
Principalmente as mulheres, que tradicionalmente se ocupam mais dos filhos, dependem muito de um modelo flexível para poder conciliar a carreira com esses cuidados. Tanto que, como você verá na reportagem de capa da repórter Luisa Costa, quase a metade delas sai do mercado de trabalho depois de trazer crianças para o mundo. Uma anulação individual e coletiva também: as empresas perdem excelentes profissionais quando não lhes dão a chance de ser mães e fortalezas da equipe ao mesmo tempo.
Felizmente, já há negócios com iniciativas preciosas para que todos, mulheres e homens, possamos nos dedicar aos cuidados parentais e estar inteiros em nossa profissão. Sem que deixemos de levar a criança à escola, dar a primeira refeição do dia, acompanhar seus aprendizados… gravar um filme na memória dessa menina ou menino que eles nunca vão esquecer. Nem nós.
Este texto é a Carta ao Leitor da edição 93 (agosto/setembro) da Você RH. Clique aqui para conferir outros conteúdos da revista impressa.