A experiência do Hospital Sírio Libanês com uma mentoria online para talentos negros
A empresa ofereceu um programa de orientação e direcionamento para a carreira desses profissionais, que historicamente veem portas fechadas por causa da cor de sua pele. A diretora de Pessoas e Cultura, Pida Lamin, conta o resultados da iniciativa.
Empresas com dificuldades para que mais colaboradores negros avancem a cargos de gestão podem encontrar um caminho em programas criativos de mentoria para esses profissionais. Foi o que fez o Hospital Sírio Libanês ao aderir, no semestre passado, à primeira turma do Conecta: um projeto realizado pela edtech Top2You em que a interação acontece por meio de uma plataforma na internet – e destinado a talentos negros, que desejam alavancar suas carreiras ou consolidar suas posições. Motivos para investir em alternativas para essa inclusão, aliás, não faltam.
Pessoas que se autodeclaram pretas ou pardas são 56% da população brasileira. Mas também são maioria entre os desempregados e trabalhadores informais do país, ganham menos do que os profissionais brancos com os mesmos cargos – e encontrá-los em posições de gerência ou direção é comprovadamente difícil.
Em 2023, 93% dos 1.117 negros entrevistados em um levantamento do LinkedIn afirmaram que existem diversas barreiras para que alcancem posições de liderança em suas empresas. Principalmente o racismo estrutural e uma cultura corporativa predominantemente branca.
Mentoria interna e externa
Cofundador da Top2You, Thiago Correia afirma que a empresa surgiu da crença de que “conversas encurtam distâncias” – principalmente quando o interlocutor (o mentor) é alguém que já trilhou um caminho de sucesso – e da vontade de facilitar encontros que melhorem as chances de quem tem dificuldades na carreira.
Pensando nisso, ele criou uma plataforma online que reúne mentores e mentorados. De um lado, executivos C-level e presidentes de multinacionais; do outro, talentos de empresas como o Sírio Libanês. Depois do match, os participantes têm conversas individuais com mentores, seguidas por sessões em grupo e outras atividades.
Segundo Pida Lamin, diretora de Pessoas e Cultura do Sírio Libanês, o hospital já promovia mentorias internas todos os anos, reunindo lideranças e colaboradores (de todas as etnias) que indicam o desejo de participar dessas ações. Mas o hospital também embarcou no Conecta com o objetivo de impulsionar ainda mais a carreira de suas lideranças negras. Esta seria uma das principais estratégias para aumentar a inclusão. (Por lá, negros são 35,4% dos colaboradores e apenas 17% das lideranças.)
Quem participou foram três coordenadores da companhia, que estão se preparando para serem gerentes do hospital e já haviam desfrutado a mentoria interna.
“Os mentores contaram como construíram suas carreiras e explicaram no que precisaram focar para alçar novas oportunidades”, explica a executiva. “Assim os mentorados puderam refletir sobre como se preparar para a promoção, sobre seus interesses de carreira e aprender a aplicar seus talentos da melhor forma – com pessoas de fora, que trazem outra perspectiva”, diz a diretora, com base nos feedbacks positivos que recebeu.
Silvia Ferreira coordena a emergência do hospital e participou do Conecta para lidar melhor com o desafio de liderar 160 pessoas. Ela afirma que o programa foi importante por lhe apresentar pessoas bem-sucedidas que já experimentaram (e superaram) dificuldades semelhantes – e juntar profissionais negros que também têm suas inseguranças específicas. “Isso te dá um alento. Essa troca realmente fez toda a diferença.”
Este texto faz parte da edição 91 (abril/maio) da VOCÊ RH. Clique aqui para conferir os outros conteúdos da revista impressa.