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Para maratonar: streaming chega aos treinamentos corporativos

Nem só de entretenimento vive o streaming: a tecnologia tem migrado para plataformas de treinamento nas empresas

Por Flávia Santucci
Atualizado em 14 mar 2022, 15h51 - Publicado em 4 fev 2022, 07h00
televisão
 (Glenn Carstens-Peters/Unsplash)
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m julho de 2021, a Alpargatas, dona das marcas Havaianas e Osklen, lançou uma plataforma de treinamentos por streaming para seus mais de 17.000 funcionários. Chamada de Aluflix, a ferramenta utiliza inteligência artificial para oferecer conteúdos personalizados. “Pesquisando tendências, notamos que, principalmente na pandemia, as plataformas de streaming viraram nossas melhores amigas”, afirma Gislaine Lima, diretora de atração, educação, desenvolvimento e carreira da Alpargatas. “Então pensamos em trazer isso para a empresa, colocando conteúdo no formato de webséries. A pessoa assiste na hora que quer, ao que quer e como quer.”

A iniciativa tem feito com que os funcionários se mostrem mais engajados e participativos, uma vez que eles também podem produzir seus próprios conteúdos e compartilhar com colegas. “A plataforma se baseia no crowdlearning, em que todo mundo pode aprender e todo mundo pode ensinar”, diz Gislaine. “Já conseguimos identificar aumento nos acessos aos treinamentos, e as áreas também querem criar seus próprios cursos.”

Com o streaming, aquele modelo em que o funcionário segue uma trilha de aprendizagem preestabelecida pela empresa dá lugar ao protagonismo do profissional, que pode explorar novos conhecimentos, incluindo os que não estão relacionados diretamente com sua área de atuação. É uma proposta atraente, com alto poder de engajamento. Não à toa, cada vez mais empresas buscam o serviço. Em 2021, a Sambatech, edtech de soluções para instituições de ensino e educação corporativa, registrou uma procura de quase 4.000 novas companhias pelo streaming. O crescimento nas vendas do serviço foi de 662% no ano, em comparação com 2020. Mas, como toda liberdade, a ferramenta pede responsabilidade. Quem utiliza o recurso deve optar por cursos que façam sentido para seu desenvolvimento. E quem o fornece precisa orientar o bom uso.

Aprendizagem positiva

A Aluflix opera com um algoritmo que faz recomendações de materiais mais relevantes para cada usuário, com base em seus interesses e nível de aprendizagem. E a Alpargatas incentiva que as equipes acessem a plataforma no horário do expediente — há gestores que utilizam as aulas inclusive nas reuniões. “Além disso, estamos instituindo um tempo dentro da agenda corporativa, chamado time to learn, em que o colaborador pode se dedicar a absorver algum tipo de conhecimento oferecido na Aluflix”, afirma Gislaine.

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Atualmente, a plataforma oferece 20 webséries e mais de 150 episódios, entre conteúdos próprios e comprados, com temas que vão desde procedimentos internos até liderança e autodesenvolvimento. Os mais acessados, segundo Gislaine, são aqueles produzidos internamente, que correspondem a oito webséries com 80 episódios.

Tornar o processo de aprendizagem mais leve é o que tem movido empresas em busca desse novo formato de ensino. “Sempre pensamos em por que a experiência do aprendizado pode ser maravilhosa quando se trata de entretenimento, e chata quando se trata de educação”, afirma Bruno Leonardo, CEO da Witseed, edtech que desenvolve treinamentos personalizados. “Com conteúdos por streaming, conseguimos passar informações simples, objetivas e práticas.”

Uma das características das plataformas é abarcar também vídeos curtos, de cinco a dez minutos, como forma de dinamizar o ensino. A Mosaic Fertilizantes, multinacional produtora de potássio e fosfato, apostou nesse formato e desenvolveu cursos rápidos de temas como metodologia ágil, criatividade e comunicação, além de aulas mais longas sobre procedimentos internos. A companhia decidiu adotar o modelo depois de comprar a Vale Fertilizantes, em 2018, e absorver mais de 250 funcionários, que precisariam assimilar a nova cultura, as políticas e as práticas. “Integramos a plataforma com a Universidade Mosaic Fertilizantes, o que permitiu aos usuários fazer a navegação por habilidades que desejam desenvolver”, diz Carlos Janibelli, diretor do centro de soluções compartilhadas da empresa.

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De fato, deixar que os funcionários trilhem a carreira que desejam para si é outro motivador da aplicação dessa tecnologia nos treinamentos. “Durante muitos anos, o mercado de trabalho no Brasil funcionou assim: a pessoa entrava na empresa e ficava ali o resto da vida, muito porque a economia não era tão dinâmica”, diz Claudia Costin, professora visitante na Faculdade de Educação de Harvard e diretora-geral do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro. “Hoje, o mundo corporativo está muito mais dinâmico e algumas competências são fundamentais, como o desenvolvimento da autonomia. Não havia essa preocupação antes.”
Na visão da especialista, a utilização da tecnologia aplicada aos treinamentos é bem-vinda, principalmente porque permite a prática do crowdlearning. “As empresas precisam se lembrar de que a principal forma de aprendizado se faz na troca entre as pessoas”, afirma.

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Mobilidade

Para oferecer uma experiência realmente inovadora, é preciso garantir flexibilidade de acesso. O Grupo Petrópolis, por exemplo, criou em outubro de 2021 a versão mobile de sua plataforma de aprendizagem por streaming, lançada em 2019. “O aplicativo permite que os conteúdos cheguem a todos os colaboradores, principalmente os 5.000 vendedores”, diz Magdiel Moda, diretor de recursos humanos do Grupo Petrópolis. “Com esse recurso, conseguimos segmentar a comunicação por cargos, áreas e regiões e fazer um acompanhamento mais assertivo em relação às métricas de visualização.”

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Antes de planejar a plataforma, o grupo já contava com uma equipe que produzia conteúdos em vídeo para treinamento. Só que o custo para a transmissão, via satélite, era alto. Com a tecnologia OTT (Over the Top, que é a conexão direta entre a plataforma e o usuário final por meio da internet, como faz a Netflix), os valores passaram para 20% do gasto anterior.

Em 2020, a empresa fez 267 vídeos em 12 áreas do conhecimento. Atualmente, são 16 categorias de cursos e mais de 700 conteúdos. Segundo Magdiel, com a pandemia, a prática do home office e o modelo híbrido, a forma como o conteúdo audiovisual é consumido e distribuído mudou. Antes, uma parcela significativa dos acessos se dava em reuniões presenciais. Com a atuação remota, o mobile ganhou destaque. “O audiovisual é uma realidade como meio de comunicação corporativa, assim como o celular como ferramenta de trabalho e consumo de vídeos”, diz Magdiel. “Logo, é uma estratégia interessante de comunicação para as empresas. E, além da ferramenta, ter uma equipe interna dedicada à produção desse tipo de conteúdo corporativo, integrada e a par do seu negócio, também é algo tão importante quanto a tecnologia.”

Por sua natureza dinâmica, o streaming demanda um olhar constante de inovação. Os algoritmos trazem o termômetro do que funciona e do que não vai tão bem, e a empresa deve ler esses dados para planejar melhorias contínuas. “Nesse primeiro momento, muito do que fizemos partiu do que entendemos que era de interesse das pessoas”, diz Gislaine, da Alpargatas. “Agora vamos chegar a outro patamar, que é entender o que nosso usuário quer, como faz a Netflix. Precisamos dar liberdade no aprendizado para que as pessoas possam criar suas vias de desenvolvimento, de acordo com as habilidades que querem desenvolver, na hora, no momento e no tempo que desejarem. Meu sonho é que, no futuro, todo esse conteúdo seja criado pelas áreas.”

Esta reportagem faz parte da edição 78 (fevereiro/março) de VOCÊ RH. Clique aqui para se tornar nosso assinante

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