Por que as empresas precisam discutir a gordofobia no trabalho
O acesso de mulheres gordas ao mercado de trabalho foi tema de debate do Casa Clã, evento em São Paulo que vai até o dia 11 de março. Saiba mais
gordofobia no mercado de trabalho é um problema que já vem sendo discutido há anos. Em 2005, um estudo da plataforma de empregos Catho mostrou que 65% dos presidentes e diretores de empresas manifestavam alguma restrição para contratar pessoas obesas. No ano passado, o Mapeamento da Gordofobia no Brasil indicou que não houve avanço: 50% dos obesos sofrem com a falta de cadeiras, mobiliários e uniformes adequados no ambiente de trabalho.
Para Gabriele Menezes, psicóloga especializada no atendimento a mulheres gordas, o panorama seria diferente com maior presença, e voz, de funcionários gordos nas empresas, principalmente em posições de liderança. “Até mesmo no RH não há pessoas gordas”, afirma. “E se um funcionário quiser se queixar de gordofobia no ambiente corporativo? Às vezes, ele pode sofrer gordofobia inclusive de quem atua em recursos humanos.”
Gabriele foi uma das convidadas do debate que aconteceu nesta quinta-feira (9), “Empoderamento e autoamor: mulheres gordas no mercado de trabalho”, no Casa Clã, evento organizado por grandes vozes femininas da Editora Abril — CLAUDIA, Boa Forma, Bebê.com e Elástica (veja aqui a programação completa). A conversa tocou em pontos sensíveis da marginalização do corpo fora do padrão, e apontou caminhos possíveis para avançarmos no entendimento e nas ações sobre o assunto.
*50,4% dos obesos lidam com a falta de cadeiras e mobiliários adequados;
*56,1% enfrentam desafios com uniformes que causam constrangimento e falta de
disponibilidade de tamanho;
*41% apontam cabines de banheiro estreitas nos escritórios e ambientes de trabalho;
*29,2% afirmam ter dificuldades de acessar o mercado de trabalho;
*8% relatam que as empresas preferem que a pessoa gorda não tenha contato direto com
clientes e fique no backstage;
*6,5% não foram aprovados no exame admissional por causa do peso;
*22,9% das pessoas gordas tiveram gestores que sugeriram a elas a perda de peso.
Fonte: Pesquisa Mapeamento da Gordofobia no Brasil, realizado em 2022 com 603 pessoas
Com mais pessoas gordas no ambiente corporativo, as companhias podem criar comitês de diversidade e inclusão e programas para conscientizar pessoas magras sobre a gordofobia, além de ações de apoio a quem sofre preconceito. “Mas é importante fazer algo diferente do que já existe hoje, que são práticas voltadas para a saúde, para emagrecimento”, diz Gabriele. “Afinal, o importante é o maior acesso dessas pessoas, que existem na sociedade, aos espaços corporativos e a posições de destaque.”
Existe também uma questão de gênero. Historicamente, para os homens não há cobrança sobre a imagem. “Se pensarmos em homens gordos em cargos de poder, vamos lembrar de vários! Porque eles existem, estão ali, se impõem. Por isso é importante fazer os recortes: do machismo, do racismo, da gordofobia, do capacitismo”, afirma Gabriele.