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Isis Borge

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Executive Director Talenses & Managing Partner Talenses Group

Processo seletivo: o que fazer quando não estamos em um dia bom

Imprevistos graves e doenças podem acontecer a qualquer um e é preciso ter empatia para entender o momento do candidato

Por Isis Borge, colunista de VOCÊ RH
11 jun 2021, 09h00
Mulher usando máscara e com expressão cansada
 (Engin Akyurt/Unsplash)
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Temos falado muito sobre saúde mental e emocional nas empresas, muito focados no olhar que o empregador precisa ter para os colaboradores. Sabemos que, no cenário atual, muitas pessoas simplesmente não estão bem pelas mais diversas razões. Alguns dias, inclusive, podem ser piores que outros quando temos pessoas doentes ao nosso redor ou quando vivenciamos perdas de pessoas próximas. No entanto, o mundo não para, incluindo a nossa carreira e os processos seletivos.

A questão é que para alguém ir bem em um processo seletivo é muito importante que ela esteja em um bom estado emocional. É muito improdutivo para o próprio candidato quando ele leva para as etapas do recrutamento problemas pessoais que estão acontecendo do lado de fora da sala de entrevista. Às vezes, as pessoas estão tão desesperadas pela vaga ou pela oportunidade em uma empresa muito desejada que tentam ignorar seu próprio estado emocional e agendam a entrevista assim mesmo. É claro que cada um sabe das próprias necessidades, mas, nesses casos, o risco de a pessoa não se sair bem é muito grande.

Por isso, eu escrevo esse texto com um lembrete: por trás dos processos seletivos existem seres humanos também. Então, antes de pensar na sua relação com a empresa, pense que tanto o headhunter quanto os recrutadores internos das empresas e os gestores das vagas são pessoas que também estão sujeitas a dias ruins.

Eu trago esse assunto para a discussão pois, nos últimos meses, vivenciei diversas situações envolvendo candidatos vulneráveis em processos seletivos. Talvez, você que esteja lendo esse artigo, venha a passar por algo parecido e, por isso, é bom saber como agir.

Com bom senso, coloque-se em primeiro lugar

Se algo traumático tiver acontecido com você ou seus familiares, reflita se não vale a pena postergar uma etapa do processo seletivo. Isso é possível? Sim! Sempre é possível ligar para a empresa, explicar o que ocorreu e verificar quais são as chances de postergar o encontro, mesmo que seja uma etapa virtual como tem sido na maior parte dos processos seletivos. Se o empregador ou recrutador não flexibilizar a data, cabe a você decidir se o melhor é se arriscar a manter a entrevista ou, até mesmo, avaliar se é nesse tipo de empresa que você gostaria de trabalhar. É claro que sempre vão existir exceções. Mas, na maior parte das vezes, eu afirmo, com conhecimento de causa, que sim, as empresas entendem e dão uns dias para o candidato se recompor e ter chance de mostrar o seu potencial na entrevista.

A situação na prática

Vou contar alguns casos recentes e os respectivos desfechos para ajudar a elucidar o tema.

A candidata que pegou covid-19 na semana da entrevista 

Eu tive uma candidata que estava com uma entrevista agendada com cerca de quinze dias de antecedência. Na semana da entrevista, ela pegou Covid. Então, me ligou contando o ocorrido e comentou que não estava se sentindo bem para o bate-papo. Eu conversei com a empresa, os responsáveis internos pelo recrutamento entenderam a situação e remarcaram a entrevista para a semana seguinte. Próximo a nova data ela foi internada em decorrência do agravamento da doença. Desta vez, a data da entrevista foi suspensa até que tivéssemos notícias da recuperação dela. Após vinte dias a entrevista finalmente aconteceu. Ela não foi a candidata aprovada para essa vaga, mas, pelo menos, teve a chance de conversar com os gestores e eles tiveram a oportunidade de ter mais uma boa candidata para comparar com os demais participantes do processo e assim poderem tomar a decisão.

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O candidato que precisou levar o pai ao hospital às pressas 

Na semana passada, em um fim de tarde, um candidato tinha uma entrevista agendada com o gestor da vaga. Era uma das últimas etapas do processo. Uma hora antes, ele me ligou dizendo que o pai de 88 anos havia caído e, possivelmente, quebrado algum osso. Por essa razão, estavam a caminho do hospital. Eu avisei o gestor e a entrevista foi remarcada para dois dias depois. Esse candidato está seguindo no processo seletivo para a etapa final, com grandes chances de ser o profissional contratado.

O candidato que decidiu omitir o falecimento da mãe 

Recentemente, um candidato que estava sendo muito bem avaliado no processo seletivo, realizou uma etapa final de apresentação de estudo de caso. Para minha surpresa, ele foi muito mal durante a explanação. Parecia não ter se preparado adequadamente e nem ter a desenvoltura esperada. Como consequência, a empresa optou por outro profissional. Quando eu liguei para dar o feedback do processo, esse candidato reprovado considerou que, talvez, o seu desempenho tivesse relação com o falecimento da mãe no dia anterior à apresentação. Eu, então, falei que ele deveria ter informado o ocorrido para que eu tentasse o adiamento da reunião. Conhecendo a empresa em questão, muito provavelmente, eles aceitariam.

O candidato que foi para a entrevista mesmo abalado com a perda do filho

Outro caso que me marcou muito foi o do candidato que eu acompanhei durante oito etapas do processo seletivo. Na nona fase, notei que ele estava diferente e não foi bem na conversa com o presidente da empresa, que acabou reprovando o profissional, ressaltando, no feedback, que se tratava de uma pessoa muito quieta e com pouca desenvoltura para responder as perguntas. Os diretores envolvidos, então, me ligaram surpresos, pois tinham certeza de que a percepção seria outra. A pedido deles, entrei em contato com o candidato para entender o contexto da situação.

Para a minha surpresa, ele me disse que, no dia da entrevista, o filho adolescente tinha falecido em um acidente de carro, mas que, enquanto liberavam o corpo, ele preferiu não remarcar a conversa. Ele relatou que tinha muito interesse na vaga. Na visão dele, se ele conseguisse manter a concentração por apenas 30 minutos, não correria o risco de perder a oportunidade. Mas, obviamente, mesmo tentando manter o controle, ele estava devastado durante a conversa. Afinal, qualquer um de nós estaria. Eu, então, liguei para a empresa e contei o que tinha acontecido. Os diretores posicionaram o presidente sobre o ocorrido e uma nova entrevista foi agendada para a semana seguinte. Para minha felicidade, o candidato foi contratado.

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Manter a entrevista pode não ser a primeira escolha

É importante destacar que, quando opta por dar sequência ao processo seletivo mesmo estando abalado emocionalmente ou com a performance prejudicada devido a problemas de saúde, nem sempre o candidato tem outra chance. Neste último caso que eu citei, reconheço que tivemos sorte de se tratar de uma organização bastante humana e focada em pessoas. Porém, acredito muito que em qualquer empresa que ele tivesse comentado a sua situação pessoal previamente, seria possível postergar a entrevista.

Isso vale não só para processos seletivos, mas também para reuniões de trabalho importantes. Felizmente, estamos atravessando um período de transição de Era nas empresas, deixando para trás um padrão mais duro e ingressando em ambientes muito mais humanizados.

Antigamente, quando um profissional demonstrava não estar em seu melhor dia, por qualquer razão, o modo operante das empresas era ter algum tipo de preconceito, como se a pessoa fosse fraca. Hoje, já não é assim. As organizações e os líderes estão se dando conta de que abrir um canal de diálogo e de entendimento gera empatia e retém o profissional. Estamos em um momento de migração de líderes autocráticos, que se impõe pelo cargo, para gestores mais humanos, que lideram pelo exemplo. A humanização dos líderes e dos colaboradores faz parte desse contexto.

Eu posso falar, inclusive, por mim mesma. Acabo de passar quase uma semana com o meu bebê de dois meses internado em decorrência de uma bronquiolite. Se eu tivesse uma reunião importante, certamente, não estaria bem para passar a melhor impressão ou ter as melhores ideias.

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Eu espero que não, mas situações semelhantes podem acontecer com você. E, seja qual for o desafio, recomendo abrir para líderes, pares de trabalho, clientes, parceiros ou recrutadores o que está acontecendo. Questione se é possível reagendar a reunião em prol de uma conversa mais produtiva.

Precisamos sempre nos esforçar para cuidar do nosso bem-estar psicológico, da nossa saúde como um todo e das pessoas que são importantes para nós. Mas não precisamos e nem conseguimos estar bem todos os dias. E está tudo bem!

Assinatura de Isis Borge
(VOCÊ RH/Divulgação)
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