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Isis Borge

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Executive Director Talenses & Managing Partner Talenses Group

Por que muitas empresas entraram em compasso de espera

Incertezas com o cenário nos próximos meses levam muitas companhias a desacelerar investimentos para preservar o lucro e o caixa

Por Isis Borge, colunista de VOCÊ RH
17 mar 2023, 07h21
Imagem mostra um executivo com camisa branca e relógio digitando em um notebook
 (Nordwood Themes/Unsplash/Divulgação)
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O

mercado está um pouco mais desafiador, mais incerto. E essas incertezas levam muitas empresas a entrarem em um modo de manutenção para preservar o lucro e o caixa. Isso resulta em segurar novos investimentos, congelar projetos e, também, suspender contratações que não sejam essenciais para o momento do negócio. Com isso, o mercado de trabalho entra em um compasso mais lento, com contratações apenas quando elas são imprescindíveis. As movimentações, principalmente no nível de liderança e acima, deverão estar mais relacionadas a ajustes de estruturas e substituições.

Noto que empresas que dependem de investidores externos, como é o caso de muitas startups, continuam sofrendo uma grande cobrança por eficiência na operação e entrega de retorno financeiro. Diante do atual cenário econômico, os investidores pensam duas vezes antes de continuar injetando dinheiro em negócios que ainda não se pagam. Sem essa verba, muitas empresas estão readequando as suas estruturas e, com isso, continuamos a acompanhar as demissões e reduções de quadros.

Os juros altos também têm sido um dificultador dos negócios, tendo em vista que eles encarecem o crédito e, de certa forma, freiam o consumo. Com isso, as empresas sofrem com a queda de receita e entram também nesse compasso de espera, impactando toda sua cadeia de fornecedores. Somado a isso, a previsão do PIB não apresenta indícios de crescimento. E todos esses fatores impactam diretamente na geração de empregos e nas decisões por investimentos.

Diante disso tudo, vemos a agenda de ESG, que estava muito aquecida, sofrendo um pouco com a redução dos investimentos nas iniciativas que estavam em andamento. Não é que as empresas não irão dar sequência à agenda prevista, mas os investimentos maiores serão postergados. Por exemplo, empresas com metas de descarbonização podem precisar adiar a troca de maquinários ou de veículos corporativos convencionais para um momento mais oportuno. E isso vai acontecendo em diversos temas ESG.

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O mesmo acontece com projetos relacionados à inovação. Estávamos acompanhando uma corrida grande rumo à criação de fundos de inovação dentro das empresas por meio de suas “corporate venture capitals”. Esses fundos estão sofrendo uma diminuição de verba. Um braço forte que também fica prejudicado nesse cenário são as parcerias com startups, hubs de inovação e universidades, que perdem parte da tração quando as empresas diminuem os investimentos.

Muitas das venture buildings ou novas empresas que estavam sendo criadas do zero dentro de grandes corporações também são impactadas com a decisão de focar na atividade principal do negócio. Tem sido comum ver líderes guiando ações com base no lema “vamos focar no core business, voltar para as bases e ter muita cautela ao investir no que é novo e não trará retorno no curto prazo”. É um cenário diferente. Não é alarmante, mas certamente com um ritmo mais lento, se comparado ao praticado nos anos de 2021 e 2022.

A construção civil de edificações reduz o número de novos empreendimentos em função do crédito estar mais caro. Os lançamentos continuam existindo, mas em menor número em relação ao anteriormente planejado. O mercado de bens de consumo, cosméticos, têxtil e de alimentos e bebidas são impactados pela mudança no hábito de compra das pessoas, que optam pelos itens mais em conta em substituição àqueles com maior valor agregado, um desafio que se agrava diante da guerra acirrada por consumidores entre o varejo e os e-commerces. O setor automotivo, por sua vez, atravessa um momento de recuperação após um passado recente de faltas de peças, entre tantos outros desafios. Os novos projetos e investimentos existem, mas de forma mais tímida do que já foi no passado. Alguns setores, como o químico e petroquímico, que atendem muitos mercados de uma forma geral, sentiram alterações no seus mix de produtos, mas segue bem.

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O setor de agronegócios e tudo que está relacionado a ele nunca decepciona. O Brasil continua sendo muito forte no agro e na pecuária, incluindo a indústria de fertilizantes, mesmo com os desafios de importação de insumos como o potássio, as tradings de grãos e empresas portuárias e de logística que atendem o setor. Já empresas logísticas focadas no varejo sentem um impacto maior com a desaceleração do mercado. Empresas de bens de capital que sejam multissetoriais que possam ajudar as empresas a serem mais eficientes e automatizadas, de uma forma geral estão bem. Mas aquelas que fornecem soluções para apenas um ou outro setor, dependendo do cliente envolvido, podem estar sofrendo nesse momento.

Pouco a pouco, tenho visto as viagens corporativas voltarem a acontecer — ainda longe do ritmo anterior, mas com potencial de gerar um fôlego para as companhias aéreas. O setor de turismo, por enquanto, segue em alta, com muitas pessoas focadas em recuperar o tempo de reclusão e aproveitar cada feriado que temos pela frente. A área de ciências da vida, com tudo que é relacionado à parte hospitalar, farmacêutica e de equipamentos médicos e serviços da saúde, também segue com um discurso de agenda positiva, com as mesmas premissas de todo o mercado de avaliar com mais atenção os grandes investimentos. Setores de ciclos mais longos, por sua vez, como energia, infraestrutura e papel e celulose, ainda continuam aquecidos, pois marolas econômicas afetam menos as decisões no curto prazo.

Com tudo isso, é normal que processos seletivos fiquem mais lentos. Tem sido comum também ver empresas ofertando contrapropostas para profissionais que elas não querem ou não podem perder, principalmente considerando a atual dificuldade não só para encontrar profissionais qualificados como também para aprovar reposições de colaboradores no curto prazo. Os profissionais também têm se mostrado mais cautelosos para fazer movimentações nesse cenário.

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De uma forma geral, a maioria das empresas segue a vida tocando seu dia a dia de forma mais conservadora no que tange a novos investimentos e em trazer novos talentos, mas não estão paralisadas. A cadência é apenas mais lenta com lideranças mais questionadoras quando o assunto é prioridade.

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