Até há pouco tempo, as pessoas acreditavam no seguinte: o que mata uma empresa é a ineficiência na gestão do caixa. Claro, isso importa muito. Mas, recentemente, episódios com grandes corporações mostraram o poder devastador das crises de reputação.
Infelizmente, a confiança que uma organização transmite é abordada menos do que deveria. Muitos diretores não acreditam que o dano à imagem pública de uma companhia possa afetar seu faturamento e lucro – pelo menos até que sejam impactados por alguma situação adversa.
Você já pensou no quanto a reputação também tem o poder de impactar uma carreira, seja de maneira positiva ou negativa? Em geral, as pessoas entendem que trajetórias profissionais são impulsionadas prioritariamente por boas entregas e desempenho acima da média, mas não é só isso! Aliás, é bastante frágil se basear apenas nessa concepção. Sabemos, por exemplo, que habilidades técnicas deixam alguém mais apto a ocupar uma vaga, mas o comportamento também influencia fortemente na decisão de contratar, promover ou demitir uma pessoa.
Confiança não nasce da noite para o dia
A reputação e a construção de relações de confiança têm sido fundamentais para o desenvolvimento de muitas trajetórias, seja para impulsioná-las ou para causar estagnação. Porém são fatores que, para se provarem sólidos, demandam tempo, esforço, constância, sinceridade e empatia. Exigem, ainda, habilidade para evitar vieses inconscientes no contato com o outro. E ainda saber lidar com as sutilezas das relações humanas – para que uma boa percepção não seja destruída em segundos.
Trago o tema para a revista porque tenho visto pessoas investindo em autoconhecimento, mentoria, terapia e diferentes cursos, mas negligenciando a qualidade das relações interpessoais. São executivos que não se deram conta de que a promoção, o projeto ou a negociação não tiveram um desfecho satisfatório pela fragilidade de uma relação de confiança com a outra parte. Por outro lado, já vi pessoas serem poupadas de demissão, e líderes deixando de perder talentos, por serem fortes no aspecto da confiança.
Dito isso, convido você a uma reflexão: “Quais têm sido as suas iniciativas para provar que você é uma pessoa de confiança?”. Eu entendo que, além de ter atitudes pautadas pela ética e pelo comprometimento, é fundamental investir em um tempo de qualidade com o outro – o que inclui escuta ativa, interesse genuíno em se conectar e espaço reservado na agenda para realmente fazer networking.
Pelo bem da sua carreira, inclua no topo das suas prioridades a construção de laços de confiança com líderes, pares, subordinados e parceiros de negócio. Tenha muita cautela com ações que podem abalar a sua reputação – quando se tem um estigma ruim, é muito difícil reverter essa imagem negativa.
Vivemos um momento em que a informação e o conhecimento estão amplamente disponíveis. Temos todo tipo de tecnologia a nos ajudar no nosso dia a dia; ferramentas para sermos mais ágeis e apresentarmos dados mais confiáveis em um curto espaço de tempo. Mas a essência do ser humano não muda, apesar de toda a evolução tecnológica.
Nesse sentido, gosto muito da abordagem do investidor americano Morgan Housel. No livro O Mesmo de Sempre, ele cita que, em vez de tentarmos adivinhar o que vai acontecer no futuro, deveríamos focar nas variáveis da essência humana que não vão mudar. Claro que precisamos ficar atentos às tendências em carreira, gestão e mercado de trabalho. Mas relações interpessoais, dentro e fora do ambiente corporativo, sempre estarão associadas à conexão com o outro. Com ética e confiança.
Este texto faz parte da edição 93 (agosto/setembro) da Você RH. Clique aqui para conferir outros conteúdos da revista impressa.