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Ana Bernal

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Ana Bernal é advogada criminal, palestrante, colunista, consultora e professora. Atua também como diretora-secretária geral da diretoria executiva da OAB São Paulo

Sobrecarga de trabalho: por que as mulheres sofrem mais?

A desigualdade de gênero foi escancarada durante a crise da covid-19. Entenda o que é possível fazer - inclusive na família - para combater esse problema

Por Ana Bernal, colunista de VOCÊ RH
Atualizado em 23 mar 2021, 09h15 - Publicado em 20 mar 2021, 09h00
Mãe usando notebook segurando filho no colo.
 (Pexels / Anastasia Shuraeva/Divulgação)
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Não é novidade que as mulheres já sofriam com a desigualdade de gênero, em uma sociedade patriarcal, bem antes do isolamento social, necessário, em virtude da pandemia causada pela covid-19. Mas, uma pesquisa realizada pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFRA), órgão da ONU – Organização das Nações Unidas, responsável por questões populacionais, apontou que além dessa triste desigualdade, a mulher no mundo todo, teve sua vida mais difícil em razão da sobrecarga de trabalho e, fez um alerta que no Brasil especificamente, isso é mais acentuado.

Dados do IBGE do ano de 2019 apontaram que a mulher se submete à jornada dupla, em média de 18,5 horas semanais dedicadas a tarefas domésticas e, cuidados com pessoas da família, como crianças e idosos. Já os homens, apenas 10,3 horas semanais gastas nessas referidas atividades, ou seja, aproximadamente a metade. Nesta pandemia, outra questão muito impactante, foi o fato de que as escolas estavam encerradas, e as crianças ficavam o dia todo em casa, precisando de cuidados, atenção, entretenimento, e auxilio para acompanharem as aulas virtuais, já que as de tenra idade não tem como fazer os acessos remotos por tecnologia, sozinhas.

Dados, ainda do IBGE, demonstram que no Brasil as mulheres têm salários em média de 27,1% memores que o dos homens e apenas 46,6% delas para 64,3% de homens ocupam postos de trabalho, isso apesar de terem mais educação formal, em média 8 nos de estudo, para 7,6 dos homens. Ou seja, as mulheres são mais qualificadas formalmente e ainda assim, o número delas desempregadas é muito maior que o de homens. Portanto, embora as mulheres ocupem os bancos das escolas e universidades, em maior numero que homens, ocupam menos cargos nas empresas.

Se, no entanto, falarmos de cargos de liderança (diretoras executivas) – CEOs, no Brasil, embora em crescimento, o que vinha sendo motivo de celebração, representando apenas 3% dos cargos mais altos e, apesar do maior estudo, têm renda inferior à dos homens. Ainda assim, 63% de mulheres são chefes de família. Isso nos leva a concluir que a pobreza no Brasil, tem sexo, e é feminino.  Significa dizer que são essas mulheres que terão maior impacto para pagar suas contas, alimentar seus filhos, nesta pandemia que assola o mundo, com reflexos de crise econômica se aprofundando.

Sobrecarga e exaustão mental

Na prática, temos mães extremamente preocupadas, ou seja, com sobrecarga mental, com a manutenção de seus empregos, ou como ingressar em um, nesta fase pandêmica, fazer o dinheiro chegar para que a sua família possa ser alimentada, e levar ou não seus filhos para a escola, já que estávamos adotando um regime escolar híbrido. Estas questões todas trazem reflexos na saúde não apenas física, mas também mental, para mulheres que já lutavam para poder ocupar espaços de maior destaque.

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Já existem relatos de mulheres acadêmicas que estão produzindo bem menos artigos científicos nesta pandemia, justamente pelo aumento de tantas outras tarefas domésticas e com cuidados de familiares, que precisou assumir. Não olvidando, que a mulher trabalhando em home office, divide sua atenção, com todas essas tarefas. Na contramão, homens estão produzindo mais artigos, o que nos leva a crer, que o tempo de dedicação ao trabalho é maior.  Certamente esta experiência, pode ser levada a outros setores profissionais.

Desigualdade de gênero: ações para diminuir.

Diante desta situação, preocupante para as mulheres, que já tinham que lutar pela equidade de gêneros, a ONU, sugere algumas ações, como conversas no seio familiar sobre a desigualdade, compartilhar histórias sobre a mulher, entre outras. Pois a desigualdade de gênero precisa acabar, para que possamos construir uma sociedade mais igualitária e justa, o que beneficia a todos, e não apenas as mulheres. Assim o ativismo deve ser permanente, ainda que neste momento online.

Ressaltamos a importância de os pais criarem seus filhos, fomentando a igualdade dentro de casa, como o estimulo da divisão de tarefas e, educar meninos e, meninas de igual forma, acabando com a super valorização do sexo masculino, em detrimento do feminino. Erradicar de forma definitiva, expressões como: “meu pai ajuda minha mãe a lavar a louça”. Se ajuda, a tarefa não é dele. Isso deve ser estendido, ao mundo corporativo, onde a mulher ainda precisa explicar em uma entrevista de emprego se tem filhos e onde vai deixá-los para poder trabalhar. Sendo que o homem pai não escuta estas misóginas perguntas, e não existe razão alguma para que a mulher sofra tanto com a desigualdade, a não ser o machismo, tão arraigado na sociedade, como um todo.

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Vivemos tempos de anormalidade, que não sabemos, quando terminam, ou se voltaremos algum dia, a ter o que havia antes da pandemia, e, esses impactos são sentidos por todos nós. No entanto, não podemos sobrecarregar a mulher, já tão discriminada, impondo-lhe uma carga muito maior, demonstrando um enorme desequilíbrio e desumanidade, já que a nossa lei maior, a Constituição Federal assegura que todos são iguais, sem distinção de qualquer natureza (art. 5º. caput), princípio da isonomia e igualdade, que devem ser respeitados por todos nós. No entanto, acredito que, um futuro mais igualitário entre mulheres e homens é um caminho sem volta.

Assinatura de Ana Bernal
(VOCÊ RH/Divulgação)

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